Folha de S. Paulo


Tudo cor de rosa

O mais novo escândalo a sacudir Brasília, o da famosa ''pasta cor-de-rosa'', foi de novo obra da ''IstoÉ''.

Depois de revelar o grampo no embaixador falante, a revista mostrou com a reportagem de Sônia Filgueiras que está mesmo disposta a incomodar a concorrente ''Veja''. Não só a poder de fascículos, mas no campo em que a adversária sempre brilhou: jornalismo.

A pasta que o interventor do Banco Central no Banco Econômico teria encontrado, com listas de doações de banqueiros a parlamentares na eleição de 1990, nem de longe tem a importância das conversas grampeadas.
Mas o caso veio à tona no ambiente escandalosamente aquecido do Sivam, a mais malcontada história dos últimos tempos, desde a Operação Uruguai.

Nessa atmosfera de confusão, contradições e evasivas, abre-se terreno fértil para as ervas daninhas da vida política: especulação, fofoca, anonimato. É mais do que tempo de pôr um ponto final nesse leva-e-traz sórdido, objeto de conversinhas excitadas entre jornalistas supostamente bem-informados, mas que até o momento não tiveram a competência de explicar a seus leitores o que está acontecendo.

Não vou prolongar o tema, entre outros motivos porque ao menos um leitor já reclamou que o ombudsman estaria atuando como comentarista político (contra FHC). Não se trata de fazer oposição, mas de apontar a insuficiência gritante dos esclarecimentos do Planalto para o caso Sivam-grampo, o escândalo que se recusa a morrer e rebrota a todo instante, asqueroso, como o Alien combatido por Sigourney ''Ripley'' Weaver.

Gripe

Qualquer pessoa com o mínimo de sentido cívico adoraria ver o episódio morto e enterrado. Aí, quem sabe, seriam todos poupados de notícias constrangedoras como a seguinte declaração de um presidente da República, sobre a maior crise de seu governo: ''Suspeita de quê? Está com gripe? Deu gripe no Sivam? Tem de dizer objetivamente qual é a questão''.

Ou então de descobrir, graças ao muito objetivo relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) revelado sexta-feira pela Folha, uma lista acabrunhante de promiscuidades (veja quadro reproduzido acima) entre a Aeronáutica e a empresa-afilhada Esca. Aquela mesma que foi desembarcada do Sivam por sonegação.

Se o poder público não se mostra capaz de dar satisfações à opinião pública, cabe à imprensa ir buscá-las. A Folha, por exemplo, poderia retomar a publicação dos famosos quadros ''perguntas sem resposta'', fruto de uma atitude inquisitiva que tanto contribuiu para fazer avançar a apuração de escândalos como o Collorgate e o do Orçamento. É o que os leitores esperam dela.

Conversa de jornalista

''O Estado de S.Paulo'' publicou na última quarta-feira a íntegra de 8 das 13 conversas do embaixador Júlio César Gomes dos Santos grampeadas pela Polícia Federal. A leitura das duas páginas de texto, embora sem surpresas, deixou uma pulga atrás da orelha.

O fato é que elas não coincidem totalmente com o que vinha sendo publicado em jornais e revistas, nas últimas semanas. Não mudam as linhas gerais de comprometimento do embaixador e outros frequentadores do Planalto, mas as palavras usadas. Se há mais de uma versão da transcrição circulando, torna-se legítimo perguntar pela veracidade delas _e por sua origem, claro.

No caso, note, trata-se de gravações. Muito pior é a reconstituição supostamente literal de conversas reservadas entre duas ou três pessoas, uma especialidade da ''Veja'' que a ''IstoÉ'' vem tentando imitar. Como aquela que teria reunido o presidente Fernando Henrique Cardoso e o embaixador em vias de ser defenestrado, em 14 de novembro.

O leitor Antonio Seara deu-se ao trabalho de reproduzir e cotejar, em carta ao ombudsman, as duas versões publicadas pela ''Veja'' (29/11) e ''IstoÉ'' (22/11). São ridiculamente discrepantes, mas ambas abusam dos travessões, como se os diálogos fossem reprodução fiel da realidade.

Acredite se quiser.

Notas

Quando já parecia certo que o projeto de Lei de Imprensa em tramitação na Câmara dos Deputados consagraria o fim das penas de prisão para delitos de opinião, volta-se à estaca zero. A Comissão de Ciência e Tecnologia aprovou o substitutivo de Pinheiro Landim (PMDB-CE), mas alterou sua proposta de multas e penas alternativas (como prestação de serviços).

O editor-chefe do ''Correio Popular'', de Campinas, se queixa de que a Folha não deu crédito ao jornal no noticiário sobre o cancelamento do vestibular da Unicamp, que teria sido provocado pelo diário campineiro:

''Não foi um furo jornalístico, tão-somente. O jornal descobriu a falha e fez a denúncia. A Universidade foi comunicada com antecedência, para que pudesse comentar o fato ou tomar alguma atitude''.

Em alguns rincões do Brasil, continua valendo a regra do ''nada se cria, tudo se copia''. A revista ''Superinteressante'' detectou um plágio evidente da reportagem de capa de sua edição de novembro, realizado por ''O Jornal'', de Alagoas. Até ilustrações e legendas sobre Zumbi foram ''chupadas''. O texto, ligeiramente alterado, como um ginasiano faria com a Barsa. É de chorar.

Devo uma retificação a Lauro Motta, ombudsman do jornal ''Rumos''. Em 8 de outubro, quis remediar a omissão de seu nome em coluna anterior, mas acabei cometendo dois equívocos. Nas suas palavras: ''Rumos não é uma publicação dirigida a padres casados. É dirigida por eles mas destina-se a todo mundo... E não é uma publicação mensal de Fortaleza. É de Brasília. Em Fortaleza reside o ombudsman, que envia suas críticas ao Conselho Editorial, que se reúne em Brasília''.


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