Folha de S. Paulo


Órgão da ONU estima que custo social da zika pode alcançar R$ 5,6 bilhões

Lalo de Almeida/Folhapress
Raquel de Araujo, 28, e as filhas gêmeas Heloá (dir.) e Heloísa (esq.), ambas com microcefalia
Raquel de Araujo, 28, e as filhas gêmeas Heloá (dir.) e Heloísa (esq.), ambas com microcefalia

Quanto custaram ao Brasil a epidemia de zika e os casos resultantes de microcefalia e da síndrome de Guillain-Barré? Algo entre R$ 3,3 bilhões e R$ 5,6 bilhões entre 2015 e 2017 –nos melhores cenários.

Esse seria o custo só de curto prazo. Se incluídos os de longo prazo, como cuidados do sistema de saúde e da família com as crianças e os doentes, a conta subiria para um valor de R$ 14 bilhões a R$ 40 bilhões.

Ainda há o pior cenário. Neste caso, o país perderia um total de R$ 15 bilhões, no curto prazo, e R$ 142 bi, tudo somado, a perder de vista.

Esta última perspectiva é muito improvável. Ela supõe que 73% da população seria infectada, coisa que só se viu na Polinésia Francesa, ilhas com uma população diminuta, de cerca de 285 mil pessoas, concentrada num território homogêneo, que facilita a propagação do vírus.

As estimativas sobre o Brasil são do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). Em parceria com o Crescente Vermelho e a Cruz Vermelha, o órgão da ONU produziu o relatório "Avaliação do Impacto Socioeconômico do Vírus da Zika na América Latina e no Caribe", que está disponível na internet em espanhol e em inglês.

Para a região toda, América Latina e Caribe, o custo de 2015 a 2017 subiria para algo entre US$ 7 bilhões (R$ 23 bilhões) e US$ 18 bilhões (R$ 59 bilhões). Isso considerando uma taxa de infectados na população de no máximo 20%.

Os autores do estudo puseram na conta vários tipos de gastos, como os realizados para diagnosticar e tratar pessoas com sintomas, assim como a assistência mais imediata aos bebês nascidos com microcefalia e a suas mães.

O custo maior, entretanto, desponta nos cálculos referentes ao longo prazo. Aqui o que mais pesa são os meses ou anos de trabalho perdidos pelos indivíduos afetados por sequelas cerebrais e o afastamento do mercado de trabalho, temporário ou permanente, de seus parentes –quase sempre as mães.

Evidentemente, o estudo não quantificou todo o sofrimento vivido pelos doentes e seus familiares. Isso, afinal, não tem preço.

Para o restante, há os gastos governamentais voltados a mitigar os efeitos sociais da epidemia (se não faltar dinheiro e se a burocracia conseguir fazer que ele chegue às mães).

O relatório registra em tom elogioso o pagamento, no Brasil, de um salário às famílias de crianças microcéfalas. Contudo, anota também que o valor corresponde a apenas um sexto do ônus real da perda de renda que recai sobre o domicílio.

Não têm faltado reportagens, por outro lado, sobre as agruras enfrentadas pelas mulheres pobres do Nordeste para obter o benefício –sem mencionar o difícil acesso a especialistas, como neurologistas, fisioterapeutas e fonoaudiólogos.

Isso tudo serve para que ponham as barbas de molho todos aqueles tomados de alívio quando o governo federal e a Organização Mundial da Saúde retiraram o status de emergência conferido à zika. Em realidade, o drama apenas começou.

Agora imagine quanto teria custado ao país controlar efetivamente o mosquito Aedes aegypti, coisa que nunca logrou fazer. Ninguém sabe ao certo quanto se gasta com dengue, chikungunya e febre amarela (igualmente transmitidos pelo Aedes), mas decerto será menos do que se despendeu até aqui.

Alguém precisa fazer essa conta.

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