Folha de S. Paulo


Estudo indica que lista de aves ameaçadas precisa de reforma urgente

Luiz Freire/Divulgação
Pássaro rabo-branco-mirim
Pássaro rabo-branco-mirim

Todos os que têm algum apreço por vida selvagem já ouviram falar da "lista vermelha" de espécies ameaçadas da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês). A bíblia dos observadores de pássaros, contudo, pode estar necessitando de uma recauchutagem.

O alerta saiu na quinta-feira (9) em artigo na revista "Science Advances". O trabalho tem entre seus autores Clinton Jenkins, do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ) em Nazaré Paulista (SP), que teve permanência de três anos no Brasil financiada com uma bolsa do programa Ciência sem Fronteiras.

O estudo se debruçou sobre 586 espécies de pássaros que vivem em florestas de seis "hotspots", locais com alta concentração de biodiversidade. Um deles foi a mata atlântica, que teve 173 aves incluídas na pesquisa.

Jenkins e seus quatro colaboradores primeiro verificaram quantas delas estão nas três situações de ameaça (criticamente ameaçada, ameaçada e vulnerável) da IUCN. A categoria de risco é definida com base nos tamanhos dos habitats remanescentes e em pressões como a caça. Da amostra, 18% das espécies recaem nessa classificação.

Em seguida, eles tomaram a área genérica de ocorrência de cada espécie, segundo a IUCN, e a refinaram. Lançaram mão de mapas com informações detalhadas de satélite que hoje não são consideradas para compor a lista vermelha.

O primeiro tipo de dado incluído foi altitude. Os pesquisadores levaram em conta as elevações máxima e mínima do terreno em que os pássaros já foram observados. Aplicando esse filtro sobre a área de ocorrência tradicional, o habitat potencial de muitas espécies diminuiu bastante de área.

Em seguida eles verificaram se os locais tinham de fato cobertura florestal, ou se já haviam sido desmatados. Hoje é possível mapear isso com precisão de até 30 m. A mata atlântica brasileira, por exemplo, já perdeu mais de 90% de sua vegetação original.

O resultado desse exercício, mapas em que os habitats disponíveis se reduzem a diminutas manchas negras, tem muito de preocupante. Quase metade (43%) das espécies estudadas teria de subir um degrau na escala de risco da IUCN se esta rede de 1.066 ONGs usasse os mesmos critérios.

Dessas 210 aves, 189 são atualmente consideradas de baixa preocupação pela IUCN, apenas no limiar de ameaça. Já o estudo avalia que 115 seriam de fato vulneráveis, 66 ameaçadas e 8 criticamente ameaçadas.

"O que se sabe sobre quantas espécies estão em risco de extinção, com que velocidade vão se extinguir, e onde, depende inteiramente da lista vermelha da IUCN", diz Jenkins, do IPÊ.

"A lista vermelha é aberta, transparente e democrática. (...) Infelizmente, ela é também terrivelmente datada e, para ser direto, está subestimando o quanto são sérias as ações humanas. Corrigimos isso e fizemos uma sugestão prática sobre o que a IUCN pode fazer no futuro."

No caso da mata atlântica, os candidatos a subir na categoria de ameaça seriam 27 pássaros. Entre eles figuram o fruxu-da- serra-do- mar (Neopelma chrysolophum), a saudade-de- asa-cinza (Tijuca condita), o chororó-cinzento (Cercomacra brasiliana) e o rabo-amarelo (Thripophaga macroura).

Até os nomes são lindos, pois não?


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