Folha de S. Paulo


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Esta não é a pergunta, mas a resposta de um trilhão de reais: energias renováveis. Em 2015, tal foi o volume de recursos (US$ 286 bilhões) investido pelo mundo na geração de eletricidade que não agrava o aquecimento global.

Uma comparação paroquial: isso equivale a umas 18 pedaladas fiscais das que a presidente Dilma Rousseff deu para se reeleger.

O setor energético mundial que mais cresceu no ano passado foi o da eletricidade limpa, segundo a Irena (Agência Internacional de Energia Renovável, veja em bit.ly/1qv4pwS ).

A taxa de expansão, 8,3%, se mostrou um recorde. Nunca antes na história deste planeta a geração "verde" havia avançado tanto num único ano.

Não por acaso, 2015 foi o ano do Acordo de Paris. Por insuficientes que sejam suas provisões para combater a mudança climática, disparou-se o sinal de alerta, e o setor privado está reagindo.

Se vai dar tempo de evitar o pior são outros 500. Mas os empresários poderão contar com ajuda do Banco Mundial nessa corrida, pois ali se decidiu que 28% dos recursos da instituição multilateral serão destinados, de ora em diante, a projetos relacionados à mudança do clima.

Fontes renováveis de energia não dependem de recursos finitos, como urânio ou como carvão, petróleo e gás natural -estes chamados de combustíveis fósseis, cuja queima produz dióxido de carbono (CO2) e realimenta o efeito estufa.

Elas produzem eletricidade a partir de fenômenos naturais que não acabam, como o fluxo dos rios ou das marés, os ventos e a luz solar. Também cabe no conceito a geração com biomassa, como bagaço de cana, porque as plantações estão sempre em reconstituição.

Teve destaque em 2015 a explosão da geração fotovoltaica, ou seja, a produção de eletricidade com energia solar. A capacidade instalada saltou 37% e agregou novos 47 gigawatts (GW) -o correspondente a mais de quatro usinas como Belo Monte (11,2 GW).

A energia eólica (ventos) progrediu um pouco mais devagar, a 17%. Mas o parque de geração, mais antigo, ganhou 63 GW extras, quase seis Belo Monte.

Os dois exemplos de expansão acelerada se explicam pela queda nos custos de tecnologia e equipamentos. E parece óbvio que eles vão continuar caindo, com a crescente economia de escala.

Mais da metade (58%) da capacidade nova instalada teve lugar na Ásia, onde as renováveis crescem a uma taxa (12,4%) superior à média mundial. Se você pensou em China, acertou na mosca. Na América Latina o ritmo foi de meros 5,3%.

Uma das razões para isso é que os países latino-americanos, Brasil à frente, já possuem uma participação de renováveis muito superior à média mundial. E a grande responsável é a energia hidrelétrica.

Na matriz elétrica brasileira, as renováveis representam 70,8%. A hidreletricidade sozinha responde por 64,8% do total, mas está batendo num muro.

A maior parte do potencial hidrelétrico, no Sudeste/Centro-Oeste, já se acha em exploração. Na Amazônia, a nova fronteira, barragens enfrentam grande resistência, por seu impacto social e ambiental.

No entanto, o país também conta com enorme potencial para energia eólica e solar -um dos maiores do mundo, para ser claro. A primeira, embora venha crescendo rápido, contribui com 6% da matriz; a segunda (fotovoltaica), com risíveis 0,02%.

Em grande parte, trata-se de uma questão de cultura técnica: o Brasil tem provavelmente a melhor engenharia de hidrelétricas do mundo. Mas é também uma cultura de corrupção, não só de excelência empresarial.

Essas usinas dependem de megaobras civis que permitem gerar propinas milionárias. No caso de Belo Monte, R$ 150 milhões, segundo delação obtida na Lava Jato).

Isso para nada dizer dos bilhões desviados na rainha nacional dos combustíveis fósseis, a Petrobras. Do ponto de vista das gerações futuras, sua virtual destruição poderá revelar-se a maior dádiva dos governos do PT para combater a mudança climática.


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