Folha de S. Paulo


O futuro, sem exageros

A Folha cometeu um erro grave na Edição São Paulo de quarta-feira ao noticiar o resultado dos estudos encomendados pelo Ministério do Meio Ambiente sobre os efeitos do aquecimento global no Brasil. O jornal informou que a elevação do nível dos mares "poderá deslocar" até 42 milhões de pessoas no litoral brasileiro até o final do século.

Já não resta nenhuma dúvida em relação à gravidade dos impactos que as mudanças climáticas deverão provocar no planeta nas próximas décadas. A manchete da Folha de 3 de fevereiro informava, com base em relatório divulgado pela ONU, que "Cientistas prevêem futuro sombrio para a Terra". Não é necessário, portanto, que os impactos sejam exagerados.

Um dos estudos sobre o Brasil prevê que 42 milhões de habitantes da costa poderão ser "afetados" de alguma forma caso se concretizem as previsões mais pessimistas. Uma coisa é ser afetado (como o título informava corretamente), outra é ter de ser deslocado (como no texto).

O jornal corrigiu o erro no dia seguinte, na seção Erramos, mas considerei insuficiente por entender que existe um interesse cada vez maior das pessoas nessas previsões e que o alarmismo pode levar ao descrédito um grande esforço de conscientização que parte das universidades e de organizações não-governamentais.

O ideal seria o jornal ter voltado ao assunto com mais informações sobre os diversos cenários, com detalhes sobre os fenômenos que poderão ocorrer e os impactos nas diversas regiões do país.

A imprensa, que durante muito tempo cobriu meio ambiente de forma irregular e como modismo, tem hoje um acompanhamento contínuo feito por jornalistas mais bem preparados. No caso da Folha, Ciência é uma das poucas editorias que tem mais espaço que seus concorrentes e é visível o esforço em cobrir bem os assuntos relativos ao ambiente, como o efeito estufa, as mudanças climáticas que já se manifestam e a ação destruidora em regiões como a Amazônia. A boa cobertura dispensa o alarmismo.


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