Folha de S. Paulo


A reforma gráfica

A Folha tem, desde o domingo passado, um novo visual. É a quinta grande reforma que faz desde o final da década de 1980.

Na luta por um lugar ao sol num mercado cada vez mais competitivo, as empresas jornalísticas adotaram as reformas gráficas como um elemento de renovação e de marketing. Os adjetivos pinçados para os lançamentos são cada vez mais publicitários. Mas, como todos os grandes jornais brasileiros se reformaram nos últimos anos, o impacto das mudanças é cada vez menor.

O projeto da Folha parte de aspectos da vida moderna que desafiam os diários: a falta de tempo do público, a internet e a rapidez na difusão das notícias. Ela acredita que está editada agora de uma forma que pode ser lida em "duas velocidades": 5 minutos (pelo "leitor que folheia") ou 50 minutos (pelo "leitor profundo").

A minha primeira impressão foi de excessos -de cores, de recursos gráficos, de informações pingadas-, como registrei na Crítica Interna de segunda-feira. Recebi, até sexta, 115 mensagens sobre a reforma. Como sempre, menos elogios, embora desta vez o número de mensagens de apoio, 21, tenha sido o maior que já recebi sobre alguma iniciativa do jornal -lembro que raramente os leitores satisfeitos procuram o ombudsman. Vamos às críticas.

MENOS TEXTO
Demétrio Magnoli, o titular da coluna vertical das quintas-feiras da página A2, calcula que perdeu 20% do espaço que tinha e reclamou, no pé do artigo do dia 25 ("O indizível"): "Esta coluna perdeu quase um quinto do seu espaço. De que serve opinião sem fato ou contexto histórico?"

Magnoli não foi o primeiro a reclamar. No domingo mesmo da implantação do novo projeto, Janio de Freitas chamou a atenção, na nota "Explicar é preciso", para o engessamento que a reforma impôs à sua coluna. "É uma tendência atual em grande parte da imprensa: a prioridade ao grafismo publicitário. Bom tema para debate, sobre suas origens e conseqüências, se há tanto tempo o jornalismo, em geral, não estivesse desinteressado de se discutir".

O espaço para os leitores encolheu. O "Painel do Leitor" publicou, de domingo a sexta desta semana, 56 cartas (muitos elogios à reforma) e uma nota de Redação; na semana anterior, no mesmo período, foram publicadas 63 cartas, com três respostas da Redação -uma perda de 11%.
Vamos ver como será daqui para a frente. O jornal tenta compensar com a edição de cartas na internet (www.folha.com.br/paineldoleitor), mas é claro que não tem o mesmo efeito. O leitor José Valter Martins de Almeida escreveu que imaginava que o "PL" seria ampliado e se decepcionou. Eu também. Esta coluna do ombudsman perdeu pelo menos 4% de texto.

LETRAS MENORES
Muitos leitores reclamaram que o tamanho das letras teria sido diminuído em algumas seções, sobretudo na Ilustrada. Ulysses Gavaldão foi direto no que lhe interessa: "Estou reclamando das palavras cruzadas, que eu tenho o hábito de fazer todos os dias e, infelizmente, ficou impossível com a diminuição das letras". Ele brinca com os que fizeram a reforma: "Está faltando um pouco de visão para este pessoal". As queixas se estenderam à programação de filmes e TV e à "Astrologia".

ILUSTRAÇÕES
O novo figurino da Folha acabou com as ilustrações em cerca de 20 colunas fixas. Os artigos ganharam mais destaque editados no alto das páginas, mas perderam espaço e as ilustrações, portas de atração para os textos e de reflexão. Recebi 20 queixas, principalmente de ilustradores. A maior parte das cartas lembrava que a Folha havia valorizado a ilustração ao longo das últimas duas décadas e que não entendia a razão da mudança empobrecedora.

A colunista Barbara Gancia acusou a perda na sexta-feira: "O jornal como um todo está mais formoso e ganhou em agilidade com a reforma. Mas, na minha modestíssima opinião, este canto específico da página dois do caderno de Cotidiano saiu perdendo. Ficou com cara de bula de remédio".

Ainda é cedo para uma avaliação mais profunda das mudanças no conteúdo do jornal. Na minha opinião, o aspecto mais importante é que a reforma gráfica e a campanha publicitária que gerou indicam que a empresa está, enfim, terminando a travessia do deserto que debilitou a Redação nos últimos três anos e reiniciou os investimentos no jornal. Já era tempo.


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