Folha de S. Paulo


O súbito interesse

Geraldo Alckmin, ex-governador de São Paulo e agora pré-candidato a presidente da República pelo PSDB, fez um comentário, na segunda-feira, que indiretamente questiona a imprensa. Ao avaliar os vários casos que surgiram nos últimos dias envolvendo-o (Nossa Caixa, guarda-roupa de sua mulher, acupunturista), ele atribuiu as acusações aos adversários políticos e fez a seguinte observação: "O interessante é que tudo isso apareceu depois que virei candidato a presidente. Uma coisa totalmente oportunista".

O ex-governador tem alguma razão no que diz respeito à imprensa. Não no sentido de que ela não deveria expor esses casos agora. Mas no sentido de que revela como trabalham os meios noticiosos. Por que as acusações não surgiram antes, ao longo de seu mandato? A resposta é simples: os jornais cobriram mal seu governo. O principal foco ao longo dos três últimos anos foi Brasília, o Planalto e o Congresso.

Em relação a Alckmin, recolhi dados que apóiam a minha avaliação. A Transparência Brasil tem um arquivo (www.deuno jornal.org.br) com reportagens sobre fraudes, irregularidades colhidas diariamente em 63 jornais e revistas desde janeiro de 2004. A maioria absoluta dos textos é de denúncia, um ou outro trata de projetos e políticas para se combater a corrupção. Alckmin foi praticamente ignorado em 2004 e 2005. Em 2004, foram arquivadas 33 reportagens da Folha, 34 de "O Estado de S. Paulo" e 15 de "O Globo" que, para o bem ou para o mal, mencionam o ex-governador. Em 2005, foram, respectivamente, 53, 49 e 14. Agora, em 2006, a Folha já publicou, até o dia 11/4, 45 reportagens, o "Estado", 35, e "O Globo", 41.

Uma das acusações contra Alckmin é que sua base parlamentar impediu, ao longo de todo o mandato, a criação de CPIs na Assembléia. Com a ajuda do Banco de Dados da Folha localizei apenas dez reportagens publicadas pelo jornal ao longo de três anos (2003 a 2005) com informações sobre o assunto.

Aliás, os jornais em geral, e não apenas os grandes, cobrem mal os governos e Legislativos estaduais e as prefeituras das capitais, mesmo nos Estados e nas capitais onde têm sede. Daí a sensação de oportunismo quando resolvem trabalhar.


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