Folha de S. Paulo


A confiança dos leitores

É uma surpresa para mim que a credibilidade dos jornais brasileiros esteja em alta. Pesquisa nacional realizada pelo Ibope em maio mostra que a confiança que a população tem nos diários subiu de 65% em setembro de 2003 para 74% no mês passado.

Numa relação de 17 instituições e profissões avaliadas, os jornais só perdem em credibilidade para os médicos (85%) e as Forças Armadas (75%) e estão mais bem posicionados que dois de seus concorrentes diretos, o rádio (64%) e a televisão (61%).

Por que estranhei? Para mim é visível, como ombudsman, que a crise financeira que se abateu sobre as principais redações afetou a qualidade final de seus produtos. Há um esforço evidente para manter a qualidade, mas a escassez de recursos e de pessoal aflora no dia-a-dia das edições.

Talvez minha percepção possa estar afetada pela função -o ombudsman é depositário das queixas e frustrações dos leitores- e por outros fatores:
- a transferência para o cenário nacional da crise de credibilidade constatada na imprensa dos Estados Unidos;
- a permanência da crise financeira;
- a queda contínua de circulação dos jornais desde 2001;
- e a incógnita sobre o futuro dos jornais, acossados por novas formas de difusão de informação, principalmente através da internet.

É possível que esteja confundindo as várias crises que se sobrepõem neste momento (finanças, circulação e identidade) com uma crise de credibilidade. A pesquisa do Ibope mostra, no entanto, que os problemas acumulados parecem não ter afetado a confiança nos jornais.

Não sei, porém, se os leitores estão satisfeitos. Espero, honestamente, que não, porque a leitura diária dos nossos principais jornais mostra que estes precisam melhorar muito a qualidade da informação que veiculam.
Acabo de participar de uma reunião de ombudsmans de jornais, rádios e televisões de 13 países de diferentes continentes e culturas. Todos parecem concordar em, pelo menos, um ponto: leitores, ouvintes e telespectadores querem noticiários equilibrados e exigem cada vez mais pluralismo e transparência.

Transparência na linha editorial e na exposição pública dos negócios dos grupos. E transparência, principalmente, na disposição de corrigir os erros. Os jornais brasileiros avançaram pouco nesses aspectos: raramente informam sobre seus negócios e interesses econômicos e têm muita dificuldade em reconhecer erros e em corrigi-los.


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