Folha de S. Paulo


A pressão dos leitores por equilíbrio

Recebo uma média de 30 e-mails, cartas e fax por dia. E quase todos os dias chegam uma ou duas mensagens de leitores que acham que a Folha persegue o PT, o governo Lula e a prefeita Marta Suplicy. Não é um percentual grande, mas é muito importante, porque são as reclamações mais fortes e persistentes.

Em síntese, dizem que o jornal está "tucano", "oposicionista", "tendencioso", "partidário" e "negativista". Acusam-no de ter abandonado o pluralismo, mudado de linha, de não ser coerente (com o passado) nem patriótico.

Ao longo de maio, as principais queixas foram reações a reportagens sobre a administração Marta Suplicy, sobre o desempenho político ou econômico do governo Lula, sobre a campanha eleitoral, sobre a Operação Vampiro e sobre o caso do "New York Times".

Algumas queixas me parecem improcedentes. Como a de uma leitora que escreveu para reclamar do título "Preso no Rio, "mula" afirmou que daria R$ 200 mil a Silva", reportagem sobre Luiz Cláudio Gomes da Silva, ex-assessor do Ministério da Saúde preso pela PF sob a acusação de envolvimento em fraudes. A leitora viu má-fé por parte do jornal porque o Silva do título poderia induzir o leitor a associar o crime ao presidente, que também é Silva.

Mas outras reclamações merecem a atenção do jornal porque dizem respeito ao equilíbrio do noticiário. Esses leitores acham que a Folha cobre mais, e mais criticamente, a prefeitura do que o governo do Estado. Tendo a concordar. Em um levantamento rápido, provavelmente incompleto, das reportagens publicadas na primeira quinzena de maio, contei cerca de 40 sobre a prefeita e pouco mais de 20
sobre o governador Geraldo Alckmin (PSDB). As de Marta tratam tanto de sua candidatura à reeleição quanto das ações administrativas. As de Alckmin são, basicamente, sobre a sucessão paulistana.
Levantamento feito por um instituto do Rio mostra que a Folha começou mal a cobertura eleitoral de São Paulo: as reportagens sobre a candidatura petista ou sobre sua administração são majoritariamente negativas, enquanto as sobre a candidatura de José Serra (PSDB) são majoritariamente neutras.

Outro foco de queixas é a cobertura das ações políticas e econômicas do governo Lula. Não tenho um levantamento numérico das reportagens, mas a impressão que tenho é que, no caso da economia, há uma exposição bem maior dos indicadores negativos. Há exceções, como as manchetes da sexta ("Economia cresce 1,6% no 1º trimestre") ou do domingo, dia 9 ("Economia exibe sinais de crescimento").

As oscilações e incógnitas da economia e os erros políticos admitidos até mesmo pelo governo contribuem para uma cobertura mais crítica. Mas, para muitos leitores, é um sinal de falta de equilíbrio.
Para o diretor de Redação da Folha, Otavio Frias Filho, "a Folha tem procurado manter uma linha de cobertura independente e crítica em relação aos governos do PT. Essa atitude incomoda os atuais governantes, como foi incômoda também em relação, por exemplo, aos tucanos nos oito anos em que exerceram o poder federal. Mas é um compromisso público da Folha e uma característica importante de sua identidade editorial. Estamos empenhados, ao mesmo tempo, em corrigir erros e coibir excessos, quando ocorrem".

Esse assunto não se encerra nesta coluna. Estamos em ano eleitoral e as pressões por imparcialidade e apartidarismo serão fortes, constantes e bem-vindas.


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