Folha de S. Paulo


Consumidores cobram solução para embalagens

"Está mais do que na hora, senhores!" Assim conclama o abaixo-assinado de consumidores que pede às empresas de laticínios e ao sindicato que as representa em São Paulo, o Sindileite, que tomem atitude para destinar corretamente as embalagens usadas dos produtos que comercializam.

Com mais de 1.000 assinaturas, o documento foi entregue junto com cerca de 1.300 embalagens de leite, iogurte e congêneres na sede do sindicato, na região central da cidade, na manhã de terça (12).

"Nossa iniciativa tentou fazer com eles o que eles fazem com a gente –deixar as embalagens na sua casa e você que se vire para dar um destino correto", diz Carolina Tarrio, uma das consumidoras que participou da coleta, do abaixo-assinado e da entrega.

"Laticínios, pelo fato de serem produtos de consumo diário, representam o maior volume de embalagens descartadas em nossas residências. Entendemos que o enorme problema ambiental gerado por essas embalagens vem sendo negligenciado pelas empresas e pelo Sindileite", diz o manifesto dos consumidores.

O grupo de 15 famílias reuniu o material por três meses. No dia 12, passou na cooperativa Coperglicério para juntos, usando uma das carroças dos catadores, levarem as embalagens e o abaixo-assinado ao Sindileite.

O documento foi entregue e protocolado. Com algum constrangimento pelo volume de garrafas, conta Carolina, os funcionários do Sindicato receberam o material, que lotou um elevador, e o acondicionaram numa sala.

"Eles alegaram, como fizeram em todas as últimas vezes que foram entrevistados, que 'estão estudando junto com a Secretaria do Verde e a Fiesp um plano para o setor'. Eu queria muito ver ao menos esse estudo", diz Carolina.

"Tanto nós consumidores, quanto os catadores se colocaram à disposição para pensar em um plano de logística reversa que atenda a todos e ao meio ambiente", afirma Carolina.

O grupo já havia feito manifestação semelhante em agosto, entregando garrafas no prédio da empresa fazenda Bela Vista.

Naquela ocasião, o Sindicato disse que um grupo de sindicatos está propondo para a Secretaria do Meio Ambiente do Estado projetos para testar a cadeia de reciclagem em cidades como Jundiaí e Sorocaba e, depois disso, estudar uma proposta para São Paulo.

ABAIXO-ASSINADO

O manifesto dos consumidores aponta dados preocupantes. Muitas embalagens usadas pela indústria não são sequer recicláveis. Somente 5,7% do material reciclável é de fato reciclado no país, o que faz com que toneladas de embalagens acabem em aterros, rios e mares.

O plástico parcialmente quebrado chega à água das torneiras da cidade, conforme mostrou reportagem da Folha.

"As embalagens dos produtos que o setor de laticínios comercializa têm impacto global na poluição da água que bebemos e utilizamos para cozinhar diariamente. Com consequências contaminantes ainda não totalmente estudadas pela medicina para nossa saúde", escrevem os consumidores.

O grupo vem pesquisando a reciclabilidade dos plásticos que estão em uso corrente na indústria de laticínios, ouvindo catadores de cooperativas e obtendo informações com a ajuda da ONG "Eu Reciclo". O infográfico que está no álbum de fotos deste artigo foi preparado pela designer Lia Assumpção e mostra as informações já recolhidas pela pesquisa.

No abaixo-assinado, são citadas os tipos de plásticos usados pelas marcas. O documento pede que o setor deixe de usar embalagens de Pet multicamadas, que não são recicláveis; implemente programas efetivos de logística reversa e reciclagem para as embalagens de tetrapack, de plástico PEAD e de plástico Pebd, uma vez que esses materiais são recicláveis, mas não vêm sendo efetivamente reciclados.

Além disso, pedem que o setor de laticínios se responsabilize pela coleta e destinação adequada das embalagens, realize estudos de sustentabilidade dos diversos materiais, divulgando-os abertamente, e que considere usar garrafas de vidro retornáveis.

"Avaliem que, de setor poluidor, o setor de laticínios pode vir a ser um setor ambientalmente responsável e isso tem um grande valor na construção das marcas. Está mais do que na hora, senhores!", finaliza o texto.

PARA O FUTURO

Procurei a Fiesp para saber qual é o projeto que envolve o setor de laticínios e que está sendo estudado. A entidade promoveu na quarta-feira (13), um workshop sobre o tema para empresas de alimentos e bebidas.

Segundo a sua assessoria, por causa do evento, não havia porta-voz para comentar a ação dos consumidores. A assessoria informou também que a Fiesp apresentou, no workshop, um projeto piloto de Logística Reversa que conta com a adesão de 15 sindicatos de bebidas e alimentos e entre eles o Sindileite.

Há portanto, um movimento no sentido. E são muito bem-vindas as iniciativas para o desenho de projetos futuros, para cumprir a lei de resíduos brasileira —-que já completou sete anos.

Mas o que fazer agora com a montanha de plásticos colocada para circular? Os consumidores estão explicitando o tamanho da encrenca e a urgência. Como abordar o problema imediato?

Sintomaticamente, o Sindileite deu uma lamentável solução. Segundo Carolina Tarrio, na própria noite do dia 12, o sindicato chamou a cooperativa Coperglicério para pedir que retirassem as garrafas entregues pela manhã e que levassem para a cooperativa.

Afinal, os únicos responsáveis de verdade pela reciclagem na cidade são os catadores. É ou não é?

Entre as embalagens entregues, há várias que não são recicláveis. Onde elas vão parar? Abra a torneira.


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