Folha de S. Paulo


Legumes feios vendem bem e podem mudar padrão no Reino Unido

Será que a ditadura estética imposta pelos grandes distribuidores de frutas e legumes aos agricultores pode acabar? As rígidas normas de formatos, medidas e cores que causam um enorme desperdício de alimentos bons podem ser revistas?

Impulsionada por descontos e por uma campanha no programa de Jamie Oliver e Jimmy Doherty para o Channel 4, uma experiência no Reino Unido está mostrando que os consumidores podem mudar os padrões e reintroduzir no mercado toneladas de comida que estavam condenadas ao lixo.

No início de fevereiro, os supermercados Asda, no Reino Unido, começaram a colocar à venda caixas com itens fora do padrão, as "Wonky Vegetable box", com preços bem reduzidos, em algumas de suas lojas, na primeira iniciativa desse tipo naquele país.

Por £3.50 (R$ 20,2), o consumidor leva cerca de 5 quilos de produtos que seriam normalmente rejeitados pelo cadeia de distribuição. A caixa com produtos, que inclui cenoura, cebola, batata, pepino, pimentão, repolho e alho-poró, pode suprir as necessidades de vegetais de uma família de quatro integrantes por uma semana, segundo a empresa.

A primeira parte da experiência envolveu 128 lojas. Devido ao sucesso de vendas, a rede ampliou a entrega das caixas para 250 pontos de venda e anunciou que, em março, 550 lojas também passarão a vender a caixa.

Além de evitar o desperdício e fazer bem ao bolso do consumidor, a boa receptividade fez com que o supermercado começasse a rever seus padrões de seleção de todas as lojas do país e com isso aumentou a absorção desses itens dos fazendeiros.

A Asda já vendia frutas e vegetais imperfeitos em suas lojas desde em janeiro de 2015, com 30% de desconto, após uma campanha promovida pelo chef Jamie Oliver e pelo fazendeiro Jimmy Doherty no programa "Friday Night Feast" que os dois fazem para o Channel 4.

Jamie Oliver se diz em missão para trazer de volta aos mercados as frutas e legumes fora do padrão, contra o desperdício de comida, que considera um crime. Segundo dados divulgados pelo programa, de 20% a 40% da produção desses itens no Reino Unido não chega aos consumidores.

Todos esses produtos acabam indo para a alimentação de animais, voltam para a terra como cobertura para o arado ou terminam em aterros, porque os supermercados não aceitam comprá-los. Os distribuidores argumentam que são os consumidores que ditam esses padrões rígidos e não compram a produção dos fazendeiros.

Mas esse argumento pode estar caduco. Segundo pesquisa da rede Asda, 65% dos clientes estão abertos a compra de frutas e vegetais feios, enquanto 75% são propensos a comprá-los, desde que sejam vendidos com descontos.


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