Folha de S. Paulo


Lixo: Compostagem de orgânicos combate mudança do clima

A compostagem de resíduos orgânicos aumenta a captação de carbono do solo e, por isso, é um componente essencial para alcançar os objetivos de redução de gases de efeito estufa. Esse é o resultado de uma pesquisa comentada pelo coordenador do programa de resíduos sólidos da prefeitura de San Francisco (EUA), Kevin Drew, durante visita a São Paulo.

Drew participou em janeiro de um seminário na Assembleia Legislativa, promovido pelo Instituto Pólis e pela Aliança Resíduo Zero, que reuniu também secretarias municipais de várias cidades, e representantes do Movimento Nacional de Catadores.

A pesquisa foi feita pela Universidade de Berkeley na cidade de Marin, Califórnia, no programa Marin Carbon Project. Em solos destinados a agricultura e pecuária, a aplicação de compostagem aumentou consideravelmente a captação de carbono. No mesmo período, solos que não receberam a aplicação perderam essa capacidade. Segundo a pesquisa, cada hectare que recebe a compostagem é capaz de captar uma tonelada por ano de carbono. Outro resultado positivo da compostagem foi o aumento de produtividade e da capacidade de retenção de água no solo.

Em entrevista ao instituto Pólis, Drew disse que além desse benefício da captação de carbono, coletar separadamente orgânicos e compostar é etapa fundamental para avançar em programas de desperdício zero. Resíduo Zero é meta da cidade de São Francisco para 2020.

A reciclagem e a compostagem se tornaram obrigatórias na cidade em 2009. Segundo a lei local, moradores e empresas têm de separar os resíduos em três porções: recicláveis, orgânicos e resíduos não recicláveis e colocar em recipientes de coleta adequados. O departamento responsável pelo Meio Ambiente faz campanhas de porta em porta, em várias línguas, sobre as políticas e programas de reciclagem e compostagem, para moradores e empresas.

Uma equipe ligada ao departamento verifica os coletores residenciais de calçada pela cidade. Se os materiais estiverem em recipientes inadequados, uma etiqueta é colocada no saco de lixo indicando o erro e como corrigi-lo. Alguns dias depois, a equipe retorna para verificar se o erro foi corrigido.

A prioridade é a educação e divulgação para incentivar o cumprimento, mas a prefeitura pode aplicar multas para reincidentes.

Segundo Drew, a principal dificuldade para que as administrações municipais se engajem em programas de lixo zero é a falsa percepção de que são ações caras. Ele diz que as cidades já gastam hoje muito dinheiro com os resíduos e que programas de zerar o desperdício não precisam de dinheiro novo e sim de realocação e redirecionamenro de recursos.

Perguntado sobre a cobrança de taxas e impostos como forma de educar as pessoas para o tratamento de resíduos, Drew defendeu o sistema "Pay-As-You-Throw " (PAYT). Nele, os moradores são cobrados de acordo com a quantidade de resíduos que jogam fora, o que cria um incentivo econômico direto para reciclar mais e gerar menos lixo. Para Drew, o sistema é mais justo e faz com que as pessoas vejam a relação direta entre o seu comportamento e as consequências: quanto menos se joga fora, menos se paga.

Essas iniciativas na meta do lixo zero se somam ao passo corajoso dado pela cidade em 2007, abolindo o uso das sacolas plásticas. A Califórnia seguiu o exemplo e foi o primeiro estado a banir as sacolas, em setembro de 2014. A medida entra em vigor em julho de 2015.


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