Folha de S. Paulo


Lixo: Ampliada a capacidade de tratar recicláveis, é hora de organizar a coleta domiciliar

Foi inaugurada uma nova Central Mecanizada de Triagem (CMT) para resíduos recicláveis na zona sul da cidade. Com ela vai ser possível ampliar a coleta seletiva de lixo porta a porta para oito novos distritos: Campo Limpo, Capão Redondo, Pedreira, Cidade Dutra, Grajaú, Ermelino Matarazzo, Ponte Rasa e Jardim São Luis.

A CMT Carolina Maria de Jesus fica em Santo Amaro, e vai receber resíduos secos - papel, plástico, alumínio, vidro - recolhidos nos domicílios que aderem à coleta seletiva (fazem a correta separação de lixo) nas regiões sul e leste da cidade. Se o morador separar o lixo e colocar no dia certo na porta de sua casa (um dia por semana), o material será retirado pelos caminhões da empresa concessionária local Ecourbis e levado até a nova central, que tem capacidade de receber e tratar 250 toneladas de material reciclável por dia.

Centrais como essa são fundamentais para a logística do lixo. É preciso ter espaço para tratar o que chega dos caminhões e então vender o material separado, enfardado ou prensado para as empresas recicladoras. Quanto mais bem separado e limpo o material, mais valor ele tem. O dinheiro da venda dos recicláveis, quando a nova CMT operar em toda a sua capacidade (250 t/dia), deve gerar receita de R$ 1,8 milhão ao mês.

Segundo a prefeitura, o recurso será usado para pagamento dos cooperados e para um fundo de investimento nas cooperativas e na manutenção de galpões e equipamentos.

Nessa nova central, que tem uma área de 4,8 mil metros quadrados, vão trabalhar cerca de 40 operadores de equipamentos, mecânicos, eletricistas e integrantes de cooperativas de catadores. Mas o fundamental do processo de separação é mecanizado: esteiras automatizadas conduzem o material, leitores óticos separam por tipo e cor e dimensão. O que não é aproveitável no fim do processo vai para aterros sanitários.

A construção da CMT Carolina Maria de Jesus foi responsabilidade da concessionária que explora a coleta de lixo na região, a Ecourbis. A empresa Loga inaugurou no último dia 5 de junho a sua CMT, na Ponte Pequena. Somadas, as duas centrais terão capacidade de processar 500 toneladas por dia de recicláveis, quando atingirem sua produtividade máxima. Essa capacidade se soma às 250 toneladas que são processadas manualmente pelas 21 cooperativas conveniadas com a prefeitura, em galpões espalhados pela cidade, resultando numa capacidade total de 750 toneladas diárias.

Duas outras novas centrais estão previstas nos próximos dois anos: uma em São Mateus, na zona leste, em 2015, e uma na Vila Maria, zona norte, em 2016. Com as quatro centrais, a cidade terá capacidade de processar 1.250 toneladas diárias de recicláveis e todos os 96 distritos devem ser servidos pela coleta seletiva.

Bem encaminhado o equacionado do fluxo da triagem e do correto encaminhamento dos recicláveis, com geração de renda para os catadores e diminuição de material depositado em aterros, é hora de voltar para o começo do ciclo: orientar, organizar e fiscalizar a coleta seletiva nos domicílios.

Há muitos modelos de coleta seletiva praticados pelo mundo. Mas as experiências de sucesso são sempre amparadas por fortes sistemas de sinalização e comunicação, e fiscalização dos processos.

Em São Paulo, cidade que já teve muitas iniciativas fracassadas, serão necessárias campanhas eficientes e duradouras de esclarecimento, orientação permanente nos sites, inteligência para divulgar regras em escolas, estabelecimentos comerciais, pontos de encontro, bairros, prédios, condomínios. Além disso, claro, será necessário fiscalizar com eficiência a atuação das empresas concessionárias e das responsabilidades de todos os envolvidos, cidadãos incluídos.

Procurada pela coluna, a prefeitura afirmou apenas que será feita uma grande campanha, mas não forneceu detalhes de como será organizada e nem qual é o cronograma.

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Chegaram as multas para quem suja Roma

A cidade de Roma, na Itália, vem fazendo enorme esforço para melhorar a gestão do lixo urbano. Isso inclui multas caras e específicas para cada tipo de lixo. A estratégia de comunicação é boa, não parece tão cara e usa artifícios simples de divulgação, como o de deixar as peças da campanha para download e impressão no site do ente que cuida da limpeza, a Ama. Veja aqui dois deles.

Ama SpA/Gestora de serviços ambientais de Roma (Itália)
"Deixá-lo sujar te custará muito. O cão é seu, mas a calçada é de todos. 250 euros. Chegaram as multas para quem suja Roma. Recolha os excrementos do seu cão e coloque-os nos recipientes de lixo comum nas ruas. Ajude a sua cidade a ficar limpa".
Ama SpA/Gestora de serviços ambientais de Roma (Itália)
"Deixá-lo na rua te custará muito. 500 euros. O que custa não deixá-lo? Não arrisque ser multado. Chame o número 060606 para dispensar rejeitos volumosos."

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Homenageada autora de "Quarto de Despejo"

Reprodução
Capa de
Capa de "Quarto de Despejo"

"Eu denomino que a favela é o quarto de despejo de uma cidade. Nós, os pobres, somos os trastes velhos". A frase estava nos cadernos de Carolina Maria de Jesus (1914-1977) e foi usada como título de seu primeiro livro, "Quarto de Despejo", lançado em 1960, traduzido em 14 idiomas e que vendeu mais de 70 mil exemplares no Brasil. No livro, Carolina relata sua vida de favelada e catadora de lixo. Nascida em Minas, Carolina se fixou na favela do Canindé, em São Paulo, e foi descoberta pelo jornalista Audálio Dantas, quando ele fazia uma reportagem na favela, em 1958. A nova Central Mecanizada de Triagem de São Paulo homenageia o centenário de nascimento de Carolina, considerada uma das primeiras e mais importantes escritoras negras do Brasil.


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