Folha de S. Paulo


Antologia inova ao dedicar volume aos "cantos ameríndios"

"A poesia no Brasil começa com as produções dos catequistas da Companhia de Jesus", escreveu Manuel Bandeira em "Apresentação da Poesia Brasileira" --uma antologia comentada que, na verdade, não começa com o jesuíta José de Anchieta, porém bem mais à frente, com Gregório de Matos, e chega aos modernistas.

Sinal dos tempos, a mais nova antologia da poesia brasileira, "Poesia.br", de Sergio Cohn, tem como marco inicial os "Cantos Ameríndios", título do primeiro dos dez volumes que compõem essa obra desde já fundamental.

Cohn é também poeta, autor de "Horizonte de Eventos" e editor da revista "Azougue". Assim como Bandeira, teve o decoro de não se incluir na própria seleção.

Lalo de Almeida/ 13.set.09/Folhapress
Antologia
Antologia "Poesia.br", de Sergio Cohn, inova ao dedicar volume aos "cantos ameríndios"

A opção de iniciar esse panorama da lírica brasileira com a poesia oral araueté, bororo ou guarani (com traduções/transcrições de registros de antropólogos ou feitas com representantes das etnias) segue a tendência pós-colonialista de incluir outras tradições no cânone literário ocidental.

No caso de uma antologia "nacional" como esta, Cohn não apenas amplia o habitual critério linguístico, cultural e geográfico da nacionalidade, mas também viola recortes cronológicos. Afinal, essa poesia ameríndia colocada nos primórdios é, na verdade, contemporânea --levantando questões sobre a temporalidade e a noção de autoria características da chamada "etnopoesia".

Todos os volumes são precedidos de sintéticas e agudas apresentações. Não faltam os principais autores de cada período, apenas aqueles cuja reprodução de seus poemas foi vetada pela cegueira dos detentores dos direitos (casos de Manuel Bandeira e de Cecília Meireles).

Cohn alternou critérios temáticos e estéticos --volumes sobre literatura colonial (barroco e arcadismo), romantismo e pós-romantismo- com um recorte que, a partir do modernismo, torna-se cronológico (seis volumes sobre as décadas de 1940/50, 1960 e assim por diante, até a de 2000).

Essa alternância tem a premissa de que, passado o momento vanguardista da Semana de 22, a poesia brasileira apresenta tendências mais individualizadas -o que põe a perder (e este é o único defeito grave de "Poesia.br") a coesão programática da poesia concreta, diluída no volume sobre a década de 1950. Um reparo, porém, que apenas comprova como essa notável realização pode estimular a reflexão.

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LIVROS

ROTEIRO DA POESIA BRASILEIRA - ANOS 2000 *
No último volume de uma série de 15 antologias que remontam ao Brasil colônia, Lucchesi seleciona 46 poetas contemporâneos que complementam as escolhas de Sergio Cohn.

ORGANIZAÇãO: Marco Lucchesi
Editora: Global
(2009, 184 págs., R$ 38)

APRESENTAÇÃO DA POESIA BRASILEIRA **
O poeta modernista comenta e seleciona poemas desde os "gongorizantes e árcades" até Augusto de Campos, em volume cujo posfácio de Otto Maria Carpeaux analisa o grande ausente de sua antologia: o próprio Bandeira.

ORGANIZAÇÃO: Manuel Bandeira
EDITORA: Cosac Naify
(2009, 504 págs., R$ 75)

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HOMENAGEM A GILBERTO TINETTI - 1: ELGAR/BRAHMS **
Gilberto Tinetti (Lami, R$ 30. Lançamento na terça, dia 21, às 18h30, na livraria Cultura - av. Paulista, 2.073, região oeste, tel. 3170-4033)

Na esteira da comemoração de seus 80 anos, em 2012, o pianista Gilberto Tinetti interpreta peças camerísticas pouco registradas. O trio Opus 114 (com Luis Afonso Montanha à clarineta e Robert Suetholz ao violoncelo) remete à maturidade de Brahms, com equilíbrio perfeito entre lirismo e estrutura. A surpresa fica pelo "Quinteto para Piano e Cordas op. 84", do britânico Elgar. Com o Ensemble SP, Tinetti redescobre vigor e terna dramaticidade num compositor banalizado pela marcha "Pompa e Circunstância". A compra do disco inclui exemplar gratuito de "Homenagem a Gilberto Tinetti - 2: Villa-Lobos/Guarnieri", com gravações históricas, dos anos 1970, de sonatinas de Camargo Guarnieri e do dificílimo "Concerto para Piano n. 4", de Villa-Lobos, com a Orquestra da Rádio e Televisão Francesa regida por Jean Fournet.

Christian von Ameln/ 14.abr.12/Folhapress
O pianista Gilberto Tinetti interpreta peças camerísticas pouco registradas
O pianista Gilberto Tinetti interpreta peças camerísticas pouco registradas

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