Folha de S. Paulo


O fim do smartphone

Já faz algum tempo que smartphones deixaram de trazer novidades. Cada novo aparelho é um pouco mais rápido, um pouco maior, traz uma tela um pouco mais definida e uma memória um pouco mais extensa do que a máquina que o precedeu. Até mesmo a Apple, que já foi sinônimo de inovação, hoje não lança produtos verdadeiramente novos.

A indústria da computação costuma sofrer grandes mudanças a cada 15 anos. Minicomputadores tomaram o lugar de mainframes, foram substituídos por PCs independentes, que deram lugar a máquinas conectadas à internet, que abriram caminho para os equipamentos móveis usados desde a virada do século. A cada nova descoberta, novas possibilidades deram impulso a experimentos inusitados e transformadores.

Hoje, que as máquinas não precisam ser independentes, sua capacidade de processamento já não é tão essencial. Nos grandes data centers, responsáveis pelo que se convencionou chamar de computação em "nuvem", chips especializados e novos tipos de software garantem funcionalidades que nunca couberam –e talvez jamais caberão– em um bolso.

À medida que a computação amadurece, seus equipamentos tendem a se especializar. Genérico e multitarefa, o bloco fino com duas câmeras e botões que servem para ligar, ir para a tela principal e controlar o volume, faz um pouco de tudo –mas nada direito. Ao contrário do tablet e do leitor de e-books, o smartphone ainda não parece ter encontrado o seu verdadeiro nicho.

A indústria aposta em novas ideias. Aparelhos modulares (como Project Ara e RePhone ) e telas dobráveis ou maleáveis (como este protótipo da Samsung ) chamam a atenção, mas nenhuma parece inovadora o suficiente para sobreviver às próximas décadas.

O comunicador pessoal, assim como o fax ou o scanner, não deverá morrer. Mas certamente perderá sua primazia para uma série de novos produtos. Dificilmente algum deles venderá milhões de unidades por ano ou será usado por bilhões de pessoas.

A tecnologia esteve, até pouco tempo atrás, centralizada nas máquinas porque os espaços eram analógicos. À medida que o ambiente é conectado e integrado, objetos tornam-se proativos, independentes e versáteis.

Chegou a hora de levantar a cabeça e abandonar as restrições da telinha. Assistentes virtuais, como Alexa (Amazon Echo), Siri (Apple), Cortana (Microsoft) ou Google Now criam extensões para que os aparelhos de bolso deixem de ser computadores individuais e passem a servir como chaves de acesso para o mundo híbrido.

Sensores conectados logo permitirão a troca de informações entre os aparelhos mais comuns, como portas ou sapatos. O estudo dos dados coletados por eles, combinado com o conhecimento de hábitos, a análise de locais e preferências e a previsão de comportamentos, criará interações ainda difíceis de se imaginar.

Tecnologia nasce grande e aparentemente inútil. Ao amadurecer, torna-se essencial e invisível. A próxima grande novidade em comunicação móvel não deverá ser um telefone. Serviços integrados a contextos de computação vestível, ativados através de gestos e comandos de voz, deverão ser os novos cliques. Os aparelhos "inteligentes" deverão ser tantos que não fará sentido referir-se a eles como tal.

Da mesma forma que hoje não se fala mais em objetos industrializados, elétricos, eletrônicos ou digitais, pois é assumido que todos os novos produtos trazem essas características, a computação e a conexão logo estarão integradas às casas, automóveis e cidades, formando uma enorme rede, em que cada ponto servirá como centro. Poucas dessas novas máquinas terão telas. Não será preciso.


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