Folha de S. Paulo


O céu e os limites

A mais nova sensação em tecnologia militar são os veículos aéreos não-tripulados, mais conhecidos como "drones". Mais baratos do que aviões de guerra tradicionais, essa mistura high-tech de aeromodelo e míssil pode ficar no ar por muitas horas, ser controlado de locais remotos e tomar decisões automáticas baseadas no ambiente em que estiverem.

Equipados com sensores poderosos, capazes de registrar imagens de alta definição em qualquer tempo ou terreno, sua vigília é implacável. Ela registra, em tempo real, qualquer movimento, variação no campo eletromagnético, mudança de temperatura ou presença de agentes químicos e biológicos. Esses dados são enviados a sistemas de inteligência artificial, que capacita as máquinas a tomar decisões sem interferência humana. Elas podem estabelecer redes de comunicação, direcionar e corrigir trajetórias e até coordenar robôs diversos, distribuindo tarefas conforme sua especialidade e localização.

Não é preciso muita imaginação para pensar neles como o primeiro passo na criação de ambientes de constante vigilância ou exércitos de robôs.

A crítica aos drones destaca a virtualização da guerra e a morte de civis, mas não se deve esquecer de que o próprio ato de promover um assassinato à distância, sem julgamento ou prisão, é um crime e deve ser controlado. O uso militar dessas máquinas é bastante perigoso, e pode piorar a situação em ambientes já tensos, como as disputas entre as Coreias, Israel vs. Líbano, Rússia vs. Geórgia e tantos outros. Por mais que ainda pareça ficção científica, é preciso estabelecer limites para a invasão do espaço civil antes que essas tecnologias se tornem comuns.

Porque não há dúvidas que elas se popularizarão, como várias invenções da guerra. Drones podem transportar mercadorias, identificar enchentes, patrulhar rodovias, relatar crimes, reportar situações, combater incêndios, resgatar vítimas, limitar o tráfego e o contrabando, monitorar e controlar rebanhos, vistoriar linhas de transmissão e outras missões que sejam grandes, monótonas ou perigosas demais para uso humano, em especial em um país grande como o nosso. Isso só para falar em grandes usos públicos ou comerciais. No campo pessoal pequenos objetos voadores podem revolucionar --mais uma vez-- a educação, a imprensa, o entretenimento e tantas outras áreas.

A revolução da Robótica já é uma realidade. Pequenas unidades, vendidas como brinquedos para aeromodelistas e aficionados já podem ser controlados por smartphones. Equipadas com sensores baratinhos que há uma década custavam fortunas, voam com autonomia e independência consideráveis. Não demorará para estarmos infestados de pequenos tamagotchis voadores, flutuando em volta de seus donos, prontos para fotografar ou filmar de tudo.

E isso é só o começo. Já existe a tecnologia capaz de integrar drones minúsculos, do tamanho de insetos, em "enxames" de sensores multiúso. Conectados à Internet das coisas e a servidores na nuvem, eles podem criar a base de uma infra-estrutura de informação independente, voando imperceptíveis sobre nós, gerando nos próximos anos aplicações impensáveis para os dias de hoje.

Com o tempo e o avanço da nanotecnologia, podem se tornar uma fonte perene e invisível de informação, capaz de alterar completamente a forma como interagimos com o mundo.


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