Folha de S. Paulo


Cantadores de histórias

RIO DE JANEIRO - O Carnaval vai chegando e, com ele, uma frase: "Samba-enredo é tudo igual". Não é, mas o gênero está achatado.

A televisão se apoia num paradoxo: precisa de desfiles grandiosos que cativem os olhos, mas não muito longos que os fechem.

Para alcançar a grandiosidade, hoje também exigida por quem vai ao Sambódromo, as escolas vendem fantasias demais, erguem alegorias gigantescas, prostituem-se para patrocinadores. Ficam pesadas, física e simbolicamente.

Mas o show não pode parar. Uma escola tem 82 minutos para atravessar 800 metros de pista com 4.000 pessoas e sete carros alegóricos. Só correndo. Para imprimir esse ritmo, o samba se torna metralhadora de notas e palavras.

Cabem aos bons compositores fazer milagres. É o que têm conseguido, nos últimos anos, portelenses como Wanderley Monteiro, Luiz Carlos Máximo, Toninho Nascimento e Noca. Não por acaso, um dos destaques de 2015 é a mescla que a Viradouro fez de duas composições de Luiz Carlos da Vila, autor do maravilhoso "Kizomba" (Unidos de Vila Isabel, 1988).

Percebe-se o achatamento ao se assistir no Rio às duas partes do ótimo espetáculo "A Febre do Samba", no Sesi Centro. O repertório da primeira (sambas-enredo de 1929 a 1983) é superior, em melodia e poesia, ao da segunda (1984 até hoje).

Entre os grandes nomes do ramo, há um ídolo popular, Martinho da Vila, e dezenas de mestres de uma arte injustamente subestimada: a de se contar e cantar longas histórias em cerca de 30 versos. Seus nomes (ou apelidos) devem ser exaltados.

Silas de Oliveira, Mano Décio da Viola, Aluisio Machado, Beto sem Braço, Padeirinho, Pelado, Jurandir, Hélio Turco, Walter Rosa, Catoni, Jabolô, Cabana, Geraldo Babão, Anescarzinho, Bala, Djalma Sabiá, Toco, Didi, Ratinho, Zé Katimba, Niltinho Tristeza, Edeor de Paula, Baianinho...


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