Folha de S. Paulo


Lava Jato para os ônibus

RIO DE JANEIRO - Lava Jato (ou Lava a Jato, como ensina a gramática) seria um nome a caráter para uma operação destinada a desarticular a máfia dos ônibus no Rio. E o resultado deveria ser o mesmo da homônima em curso: levar à cadeia empresários corruptores e políticos corruptos.

As passagens na cidade, que custavam R$ 3 desde fevereiro, pularam para R$ 3,40, um aumento de R$ 13,3% –a inflação de 2014 vai fechar em torno de R$ 6,5%. É o maior reajuste desde 2006. Na gestão Eduardo Paes, iniciada em 2009, as tarifas já subiram 54,54%, contra 39,34% da inflação medida pelo IPCA.

As empresas ainda são compensadas pelas gratuidades e, por conta de benesse assinada pelo ex-governador Sérgio Cabral, têm 50% de desconto no IPVA.

As linhas municipais estão rateadas entre quatro consórcios. Há nomes que se repetem nas composições societárias das viações. Em 2013, 11 das 42 tinham entre os donos a família Barata, cujo patriarca, Jacob Barata, é o capo da organização –que se perpetua no controle do serviço graças ao financiamento de políticos.

Apenas 28% dos veículos têm ar-condicionado. No verão 40 graus do Rio, trata-se de crime contra a saúde pública. Paes promete que até o fim de 2016 se chegará aos 100%. Mas essa meta irrealizável nem consta do contrato de concessão.

Sempre se promete abrir a "caixa preta" dos cálculos das tarifas, mas ela permanece fechadinha. Em 2013, no auge dos protestos, Paes "informou" que as empresas de ônibus tinham lucrado no ano anterior, juntas, R$ 70 milhões. Duvidoso. Só a festa de casamento da neta de Jacob Barata custou em torno de R$ 3 milhões.

Milionários às expensas do suor alheio, esses "empreendedores" poderiam ser condenados a andar para sempre nos caldeirões sobre rodas que mandam às ruas para cozinhar trabalhadores.


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