Folha de S. Paulo


Cordial é o c...

Para além de todas as decepções que pode ter causado em relação a este ou aquele partido, a esta ou aquela candidatura, ao procedimento inacreditável deste ou daquele marqueteiro, a presente eleição está servindo, e ainda causando o pasmo de muitos, para derrubar definitivamente a máscara do "brasileiro cordial".

Aos que ainda estão chocados com o clima que se instalou no país ao longo deste que deveria ser um exemplar exercício de democracia, deve-se dizer que, infelizmente, trata-se de mais (muito mais, reconheço...) do mesmo.

Os xingamentos, a baixaria, a dissimulação, a intolerância que têm como epicentro as eleições e cenário mídias, propaganda política e sobretudo redes sociais, nada mais são que a emulação da grosseria, da violência, do egoísmo, da incivilidade, da incordialidade, digamos assim, que vivenciamos todos os dias nos mais variados lugares, não importando nem um pouco quem vota em quem.

Seja no trânsito, no shopping, no restaurante, na festa, na praia, na escola, nos estádios de futebol, lá está muito bem representado o "ex-brasileiro cordial". Aquele que perdeu a educação, o respeito, a vergonha e quer apenas se dar bem em tudo, estar certo em tudo, fazer valer sua vontade, e dane-se o mundo.

É a moça que fura o sinal vermelho ou trafega na ciclovia, o espertinho que vai pelo acostamento, o casal jovem que fura a fila do restaurante, o universitário que enche a cara e bate em todo mundo na balada, o machão que arrebenta a face da "bichinha", a mãe que deixa o filho de cinco anos infernizar a vida de quem quer que esteja por perto, o vizinho que ouve música no último volume, a "autoridade" que ocupa vaga de deficiente, a mulher ''bacana" que usa o celular no cinema ou no elevador, o torcedor x que mata o torcedor y ou dá uma paulada na cabeça pra ele largar mão de ser besta.

Não gostou? Diga alguma coisa, para ver o que acontece. Contrariá-los é um perigo!

Portanto, é incorreto afirmar que estas eleições deixaram o país dividido, como dizem.

Não, o país já está dividido faz tempo.

E o que intriga é como o lado daqueles que perderam completamente a noção está cada vez mais numeroso...


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