Folha de S. Paulo


Marcha soldado, cabeça de papel

Sem a menor dúvida deve haver um monte de oficiais de nossas gloriosas Forças Armadas morrendo de vergonha por conta desta tresloucada marcha que supostamente ocorre hoje, em nome de uma mais tresloucada ainda volta do regime ditatorial iniciado há cinco décadas e extinto há quase três.

Por conta de seus rígidos regulamentos, nenhum oficial por menor patente que possua vai sair por aí dizendo que esta ideia é estapafúrdia, que é impossível a retomada do poder por meio das fardas e das armas, que o papel de seus quadros é, muito ao contrário, defender intransigentemente o regime democrático vigente de qualquer ameaça que possa colocá-lo em risco.

A imensa maioria dos soldados brasileiros que ostente algum tipo de graduação e poder de comando foi treinada e formada pós ditadura e atua dentro deste mesmo regime democrático. Ponto. Não quer nem vai fazer nada que não esteja de acordo com ele.

Por estas e por outras -como o hilário perfil de seus supostos líderes, os argumentos malucos que utilizam e sua ação histriônica nas redes sociais-, esta tal marcha deve ser encarada como aquilo que verdadeiramente é: uma piada.

Não deve ser levada sério nem sob o razoável argumento de que pode ser classificada de ilegal porque prega abertamente um golpe de Estado.

Não, por favor, deixem estes caras para lá, não vai dar em nada, a não ser que alguns babacas (e sempre os há...), fizerem a besteira de confrontar violentamente esta manifestação de delírio e mitomania, dando a ela a projeção que não tem nem merece.

O melhor a fazer, portanto, é seguir o bem humorado exemplo de gaiatos do Facebook e desfrutar seu sábado em outros tipo de marchas, bem mais divertidas.

Como a Marcha da Família Caymmi para Maracangalha - não esqueça o chapéu de palha.

A Marcha da Família Adams, com direito a olheiras e roupas pretas.

A Marcha da Família Dinossauro, cujo slogan é "Não é a mamãe, não é a mamãe!".

A Marcha com Deus e o Diabo na Terra do Sol, para ressuscitar Glauber Rocha.

Ou talvez a Marcha da Família Soprano pela volta de Tonny, Carmela, Paulie, Sil e sua gangue.

Mas quem sabe o melhor mesmo seja reunir a petizada (como se dizia em 1964...) para ensinar a ela musiquinhas tão animadas quanto inofensivamente patrióticas como:
Marcha Soldado/
cabeça de papel/
se não marchar direito/
vai preso pro quartel/
O quartel pegou fogo
a polícia deu sinal/
acode, acode, acode a bandeira nacional.


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