Folha de S. Paulo


Um beijo familiar

E não é que rolou mesmo o beijo gay no novelão?

Um beijo bem família, afinal de contas.

Começou meio de costas, depois seguiu sem aparecer demais os lábios, evoluiu para pouco mais que um selinho, mas nada de línguas ou sofreguidão.

Ok, é um marco, o primeiro beijo entre homens no horário mais nobre da principal emissora do país, senhoras e senhores.

Mas cá entre nós, o que foi esse beijinho diante de tanta baixaria que a própria novela apresentou ao longo de seus intermináveis capítulos?

Foram tantas agachadinhas, louras piranhudas, coroas golpistas, bundas empinadas, prótese glútea... Os telespectadores foram contemplados com uma infinidade tão grande de maledicências, assassinatos, traições, vinganças, casamentos oportunistas, golpes, adultérios e baixarias variadas que o tal beijo ocorreu quase num anticlímax, complementado pelo improvável perdão ao filho homossexual por parte do pai machista.

Até o último capítulo, podia o coroa polígamo dar tapa na bunda da chacrete da terceira idade, podia a ricaça pegar o motorista, podia o avô ser na verdade o pai, para depois o pai voltar a ser pai, apesar de "viado"; podia os dois casais se misturarem tanto que o neófito nem entendia direito quem estava comendo quem, podia a mãe enganar o ex galinha para "proteger " a filha tonta. Podia roubar, podia envenenar, podia cegar e podia matar.

Podia tudo porque tudo o que há de bastante imoral, ilegal e desprezível é o que garante a fidelidade da família brasileira ao novelão das 8 -ou das 9-, ou mais, não se sabe bem agora.
Só não podia o beijo entre dois homens.

Ah, mas agora pode!

Santa hipocrisia, Batman...


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