Folha de S. Paulo


O pânico de volta aos mercados

As últimas pesquisas eleitorais provocaram um grande ajuste -para baixo- nos preços dos principais ativos brasileiros. O índice Bovespa perdeu mais de 10% e as ações das principais empresas estatais sofreram um tombo ainda maior. Os juros futuros deram um salto de mais de cem pontos, com os títulos do governo, com vencimento em 2019, pagando juros de 12,3% ao ano. Por último, a cotação do dólar em relação ao real chegou a furar o limite superior das expectativas recentes e foi negociado para o mês de outubro a mais de R$2,50.

Tenho à minha frente, vários gráficos construídos pelo Andre Muller -economista-chefe da Quest Investimentos- mostrando a evolução dos preços dos mesmos ativos citados acima no período entre maio de 2002 e maio de 2003. Como vivi intensamente aquele momento -por estar no comando da gestão das carteiras de renda fixa e câmbio da Quest Investimentos- ao rever os gráficos do André não pude deixar de fazer uma comparação com os dias de hoje. Ela apareceu naturalmente em razão da minha reação intuitiva aos movimentos de mercado, talvez os últimos traços de minha vida passada de operador de mercado. E quero passar isto para o meu leitor da Folha.

Como agora, em maio de 2002 os mercados estavam convencidos da vitória do candidato do PT e de um desastre na economia. E, por isto, os movimentos dos preços são hoje muito parecidos, com exceção da intensidade do ajuste que foi muito mais forte no período pré Lula presidente.

E seguindo a tal intuição digo que, como sempre em momentos de muita incerteza e volatilidade, os exageros são regra no comportamento dos mercados. E, se estiver certo, quando os resultados do primeiro turno das eleições presidenciais forem conhecidos, os mercados poderão sofrer mais uma correção discreta. É a velha máxima compre no boato, venda no fato mais uma vez presente na vida do especulador experiente.

Se a presidente Dilma obtiver a votação expressiva que as pesquisas recentes apresentam e abrir uma diferença muito grande em relação ao seu concorrente -seja ele, seja ela-, no segundo turno o mercado vai reagir diante de um fato já precificado hoje; se seus resultados forem menos brilhantes e, por isto, as chances de um candidato da oposição no segundo turno forem maiores do que as esperadas hoje, um novo suspiro do morto vai influenciar as cotações de mercado.

Mas o fato determinante para criar as condições para um grande ajuste nas cotações dos ativos que hoje fazem parte do chamado kit Dilma -dólar, juros e ações da Petrobras- serão os primeiros movimentos da presidenta reeleita na formação de seu governo.

Não menosprezo a possibilidade de um novo cavalo de pau, que foi a expressão usada pelo então todo poderoso chefe da Casa Civil de Lula, o hoje sumido ex-ministro José Dirceu, para caracterizar a política econômica da época. E digo isto por entender que em política sempre existe espaço para surpresas como esta.

Vejamos alguns fatos que podem levar a presidente Dilma a liderar o dito cavalo de pau -versão 2.

O primeiro é o susto que ela e seu grupo de militantes do PT passaram quando, poucos dias atrás, a derrota nas eleições e o fim do sonho petista de hegemonia política eram um fato altamente provável.

Em segundo lugar, a vitória -se vier- será por uma margem muito pequena e, mais do que isto, com a sociedade dividida ao meio.

Em terceiro lugar, o aprendizado doloroso de uma máxima dos políticos mais experientes: apertar os cintos nos primeiros dois anos para soltá-los no final do mandato quando as eleições se realizam.

Se isso ocorrer, alguns sinais serão visíveis a olho nu, pelo menos para os analistas mais atentos. Em primeiro lugar, um presidente do Banco Central com credibilidade com o mercado financeiro para trazer a inflação para perto do chamado centro da meta. Em segundo lugar, um ministro da Fazenda com personalidade para enfrentar o caráter despótico da presidente. E acima de tudo, uma meta para o superavit primário do Tesouro bastante elevada e com o compromisso de ser obtida sem as manhas de malandro tangerina utilizadas no primeiro mandato.


Endereço da página: