Folha de S. Paulo


O que está acontecendo com a Bovespa

Em 4 de abril passado, há apenas pouco mais de um mês, minha coluna tinha o mesmo título da de hoje. Nela fiz algumas considerações sobre a instabilidade dos preços dos principais ativos brasileiros em razão das especulações com dois eventos que poderiam ocorrer em futuro próximo.

O primeiro, nos Estados Unidos, seria a mudança na política monetária que chamei de "início do começo do fim da compra de títulos por parte do Fed nos mercados". O segundo evento que provocava o vaivém de preços e expectativas era a próxima eleição presidencial.

Dizia então que a autoridade monetária americana demonstrava uma clara preocupação em passar aos investidores a mensagem de que a mudança seria lenta e gradual e que somente em fins do próximo ano é que poderia ocorrer uma primeira subida nos juros americanos.

Afinal, a maior economia do mundo ainda tinha alguns engasgos e a inflação ao consumidor continuava estabilizada bem abaixo dos 2%, que é a meta do Fed. Mas bastou uma palavra mal colocada pela presidente Yellen para que os afobadinhos de sempre levassem os juros dos títulos de dez anos do Tesouro americano acima dos 3% ao ano.

E, na sequência desse movimento, alguns analistas ligados aos mercados emergentes passaram a criar um clima de pânico entre investidores destes mercados.

No Brasil esse movimento serviu de desculpa para que a maioria dos operadores na Bovespa empurrasse o valor do índice futuro novamente para o nível de 45 mil pontos. E na esteira dos preços das ações, já sem muita bala na agulha, os comprados na moeda americana tentaram diminuir seus prejuízos puxando a taxa de câmbio para cima.

Em 4 de abril escrevi: "esse vaivém é uma verdadeira loucura se considerarmos que o estado da economia brasileira nesse período não apresentou nenhuma mudança significativa. Apenas o mau humor dos mercados com o governo Dilma apresentou uma deterioração da magnitude da variação da Bovespa. Era preciso acreditar em uma catástrofe, como o Brasil caminhando na direção da Venezuela ou da Argentina, para sancionar o iBovespa nos 45 mil pontos. E, se a próxima pesquisa eleitoral Datafolha mostrar uma queda na intenção de voto da presidenta, certamente o Ibovespa voltará ao nível dos 55 mil pontos".

Hoje o índice Bovespa está acima dos 54 mil pontos e o dólar ameaça escorregar para baixo dos R$2,20. As ações da Petrobras já subiram mais de 50% nesse mesmo período de 40 dias. E os investidores se perguntam: o que faço agora, COMPRO ou VENDO?

Meu conselho aos investidores: muita calma e bom senso neste momento. Comprar ações brasileiras quando o Bovespa estava sendo negociado nos 45 mil pontos é uma coisa; entrar no mercado quando ele está a 54 mil pontos é outra.

Comprar o mercado quando a irracionalidade e a especulação são sentimentos dominantes entre os principais formadores de opinião no dia a dia dos negócios é uma coisa; entrar no mercado quando os especuladores -não todos- se renderam aos fatos e liquidaram suas posições com grandes perdas é outra.

A questão central hoje está relacionada com os resultados das eleições presidenciais no Brasil. E as pesquisas ainda trarão muita volatilidade aos mercados. A recuperação do humor tem muito a ver com a calmaria e certo otimismo que está de volta aos mercados emergentes. A recuperação dos preços ocorreu também na Índia, na Turquia e em outros mercados afetados pelo chilique dos juros americanos. Essa âncora não me preocupa porque espero que este sentimento mais otimista continue pelo restante do ano.

Aliás, na última quinta-feira (15) foram divulgadas duas informações sobre a economia americana que, se tivessem sido conhecidas 40 dias atrás, teriam sido festejadas pelos adeptos do caos no mundo emergente e no Brasil: o índice de inflação ao consumidor em abril e o número de pedidos de seguro-desemprego. A inflação ao consumidor veio mais alta que a esperada e o número do seguro-desemprego muito menor do que o previsto, ambos sinalizando uma economia mais forte. Mas, mesmo assim, os juros americanos caíram nos mercados de títulos públicos. Mais um sinal de que o Fed já ganhou a batalha das expectativas e que sobra aos especuladores caboclos a questão das pesquisas de opiniões.


Endereço da página: