Folha de S. Paulo


Colunista sai em busca do frango assado perdido

Patricia Stavis/Folhapress
ORG XMIT: 233301_1.tif Gastronomia: frangos assados da Rotisseria Bologna, em São Paulo (SP). (São Paulo (SP), 09.07.2008. Foto de Patricia Stavis/Folhapress)
Frangos da Rotisserie Bologna

Um tempo atrás, aqui nesta coluna, chorei o encerramento do melhor local de frango assado feito de "TV de cachorro" do meu bairro (logo, do mundo): o "Nossa Granjinha", da rua Queirós Aranha, que todo domingo entusiasmava as mesas da Aclimação.

Depois de fechado, recebi sugestões de outros lugares e continuei o ritual de comer frango nos almoços domingueiros. Domingo sem frango assado é como férias sem viagem —perde o brilho.

Fui a bons lugares, assei alguns, tive decepção com outros e me entusiasmei com frequência (ainda bem) por outros. Mas continuei sem a segurança de poder repetir meu favorito.

Recebi até um e-mail de Maria del Pilar: "Minha mãe, dona Glauce, e minha irmã, Carmen (não se chama Dirce), estão à sua disposição para preparar um frango maravilhoso e suculento". Eram as donas do lugar que tanta falta me faz. Eu tinha chamado a gentil Carmen de Dirce a vida toda e ela nunca me corrigiu —inclusive, até acrescentava uma farofa extra de miúdos para o cliente fiel. Assim, vivi mais de um ano, com esperança, mas sem frango.

Em uma manhã, recebi uma caixa com um cartão da Ana Soares contando que passava a fazer o dela. Delicioso, sofisticado, com alecrim fresco —impecável. Isso alegrou meu dia. Seria fácil elegê-lo sucessor do que eu pranteava, mas... Não era "de TV".

Trata-se de um galeto primoroso (quem quiser testá-lo, entrou para o cardápio do Mesa III e pode ser comprado no balcão ou entregue em casa).
Eu inventei um índice de frango assado. O bom não está abaixo nem acima dele, tem que estar nas regras: é preciso ser marinado com bons temperos, ter um traço botequeiro muito brasileiro que não sei definir, ser assado girando, ser úmido e pedaçudo —com farofa.

E pode ter algumas batatas que saem da borra do fundo da assadeira. É tirado ali na hora do espeto, antes que seque demais, para ser embrulhado inteiro ou em pedaços no papel manteiga e ter o cheiro único que mistura a gordura pingada no fundo do equipamento com o de sua pele crocante. Em casa, pode ser comido com a mão mesmo. As sobras viram canja durante a semana.

O frango ideal precisa parecer com o das amigas que fecharam sua pequena rotisseria do bairro de 1967, a casa completaria 50 anos agora). Discorda dos meus padrões? Tudo bem. Pode criar a sua, não vamos competir.

No processo, comecei a desanimar. Segui comendo os bons frangos que encontrava, aceitando que aquele nunca mais voltaria.

Então me falaram do Jiló do Periquito. Como não ter esperança em algo com um nome desses? Provei, adotei. Ele cumpre todos os quesitos da Tabela Horta, inclusive o de fazer delivery, pois a boa comida de domingo acontece em casa, na hora da preguiça.

Pizza já é estabelecida. Se você fizer silêncio no anoitecer de domingo, vai escutar motos e interfones —são as pizzas passando e ocupando todas as ruas, prédios, casas.

O almoço tardio é reservado ao frango assado.

JILÓ DO PERIQUITO
Onde: al. Jaú, 1.372, Jd. Paulista, tel. 3062-8262
Quando: ter. a sáb., das 12h à 0h; dom.; das 12h às 18h

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Frango e vinho
Finalmente encontramos uma comida que topa tudo. Frango assado é amigo dos vinhos e vai bem com o que tivermos à mão, apesar de preferir tintos mais ligeiros e com boa acidez. Como é comida informal, que pode ir para o piquenique e ser consumido com a mão, o melhor é ter vinhos igualmente práticos, fechados com tampa de rosca e que não precisam fru-frus de decantação e taças especiais. Prefiro os vinhos de beber com gosto, festivos, sem que se preste muita atenção neles: Beaujolais, Morgon, italianos do norte do país elaborados com Sangiovese. Os Chianti são ideais, mas é preciso achar os de bom preço. E chilenos mais refrescantes também vão bem. A penosa é amistosa, não faz confusão na hora de ser ingerida. Até brancos vão bem com o frango assado, afinal ele tem partes para todo gosto: carne branquinha, carne escura e pele gordurosa.

O jiló
Olho de soslaio para quem diz "odeio jiló, é amargo". Sou do grupo que considera coisas amargas o auge do sabor, a evolução do paladar, a pós-graduação em comer. Jiló é o amargo mais fácil de conseguir, coisa afro-brasileira bem presente na comida do dia a dia (em conserva, é insuperável). O Jiló do Periquito serve seu frango com jiló assado e batatas.

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Vinhos da semana

(1) Dominique Piron Morgon Côte du Py,R$ 140,59 (decanter.com.br ).
(2) Delas Côtes-du-Rhône, R$ 99 (grandcru.com.br ).
(3) Quinta das Bágeiras Colheita, R$ 78 (premiumwines.com.br ).
(4) (Chianti Piccini, R$ 78,84 (vinci.com.br ).

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