Folha de S. Paulo


Panela de pressão cozinha qualquer coisa em pouco mais de uma hora

Fernando Sciarra/Folhapress
São Paulo, SP, Brasil, 15-07-2016: Colunista da sãopaulo Luiz Horta preparando moela na panela de pressão. (foto Fernando Sciarra/Folhapress)
Colunista Luiz Horta preparando moela em panela de pressão

Tem dias que não tenho vontade de sair, pelos perrengues urbanos mais que conhecidos da nossa valorosa metrópole quatrocentona. Justo nesta semana de aniversário me bateu uma acídia, aquela preguiça insuperável, que em latim soa melhor. E há o feriado. Quando isso acontece, eu cedo ao chamado da minha panela de pressão, meu objeto de cozinha mais estimado.

Eu também tinha medo dela, achava que tudo iria voar pelas paredes, ouvindo sempre as mesmas lendas urbanas: "Minha prima esqueceu no fogo, foi feijão para todo lado, até hoje tem uma mancha no teto". Mas comprei uma que parece de laboratório, tão reforçada, com fechamento triplo, que é mais fácil o prédio ir pelos ares do que ela.

O cotidiano pode ser bem aborrecido também, mas há truques simples para alterá-lo. Mudar um tempero, colocar uma louça diferente na mesa, comer noutro lugar, sentado no chão por exemplo. Ah, que diferença faz um pedacinho de bacon numa acelga refogada!

Não há falta de dinheiro, desânimo ou calor que impeçam uma pequena novidade, "um chicletes de sabor exótico" como dizia uma amiga. A invenção é a filha mais querida da imaginação. Meu jeito de alterar o cotidiano é usar a panela de pressão.

Ela cozinha qualquer coisa em pouco mais de uma hora. A saborosa e dura capa de filé, com molhos variados, fica pronta neste tempo. Moelas gostosas levam menos tempo. Faço um galeto úmido e todo trabalhado no cítrico que fica excelente em meros 15 minutos.

Não dou receita pois não tenho, cozinho no improviso. Tenho preguiça de anotar e sempre acho que pode ficar bom de outro jeito.

Em lugar de classificar os pratos como "leves", "entradas", "sobremesas", prefiro dize-los como "para espaço apertado", "cozinhar sem mexer muito os braços", "puxa! Não sabia que vocês viriam", "samba de um tempero só" ou o critério favorito "cozinha de apartamento em tempo vapt-vupt".

Quase sempre é comida de panela única, pelo pavor de lavar depois o que foi usado. Desculpem, desta vez eu fiquei em casa, lendo e ouvindo apenas o serpentino sibilar da válvula de pressão ritmando a promessa de uma boa refeição caseira.

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O galeto pressionado
O galeto é o típico prato de apartamento, sem muitos gestos, sem necessitar talento para o manuseio de facas afiadas e com produtos sempre disponíveis. Faço assim, pego um galeto para cada duas pessoas, coloco dentro um limão cortado em quatro (o siciliano fica mais gostoso), coloco um copo de vinho branco, água (tem que ter um mínimo de líquido, na minha panela 250 ml é o básico) e temperos. Esfrego na parte do peito, que fica virada para cima, com um pouco de pasta de missô, colorau e um vento de curry em pó (aquela quase soprada de uma colher de chá, que não se nota muito. Quando começar o vapor, é só esperar de 15 a 20 minutos e pronto.

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Vinho das férias
E se tudo é simples, o vinho também. Estamos em férias. Não as clássicas, mas neste período letárgico de suspensão de necessidades, um constante adiamento de tudo, para um vago depois, podemos quebrar o cotidiano de outro jeito, pegá-lo de surpresa mais uma vez. Frango com limão harmoniza com o quê? Com o que tivermos na geladeira e der vontade de beber. Aqui, bebi o resto do branco da receita.

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Vinhos da semana

Divulgação
vinhos da semana da coluna Volta&Mesa de 22.01

(1) Dr Loosen "L" Riesling, R$ 93 (Inovini).
(2) Domaine Delmas Pinot Noir, R$ 89 (Delacroix).
(3) Santa Julia Chardonnay, R$ 63 (Ravin).
(4) Robertson Chenin Blanc, R$ 42 (Vinci Vinho).

*valores de referência


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