Folha de S. Paulo


Mil-folhas da Tartelier, na Saúde, vale (e muito) enfrentar a distância

Roberto Seba/Folhapress
São Paulo, SP, Brasil, 23-11-2016: Tartelier Patisserie - Mil Folhas (foto Roberto Seba/Folhapress) ***EXCLUSIVO REVISTA***
Mil-folhas da Tartelier

Há uma virtude no gosto da cidade pelo deslocamento: os paulistanos enfrentam qualquer distância para comer bem –e isso é um elogio.

Outra constatação de um não-paulistano foi ver que todo mundo adora ter grandes cozinhas equipadíssimas em casa, cheia de gadgets, fogões com cozimento por indução, thermomix, mas raramente alguém cozinha, o que faz do morador de São Paulo um deambulante, sempre em movimento, sempre comendo fora. Ainda bem, acrescento, é isso que faz aumentar a oferta de comida e melhorou a qualidade dos restaurantes, lanchonetes e bibocas.

A prova é o sucesso do Mocotó, na Vila Medeiros (zona norte), que não era só modismo, como se vaticinou quando apareceu no mapa, mas, sim, uma ótima cozinha, que não decepciona e prosperou. Vale uma pequena reflexão sobre perto e longe: pense que quem mora lá acha o bairro dos Jardins bem distante...Longe é o que está afastado de você, afirmação irrespondível, apesar de digna do Conselheiro Acácio, o personagem de Eça de Queirós que falava obviedades.

Quando quero comer mil-folhas (toda semana), tenho duas opções: uma está a 9.104 quilômetros de distância, envolve um voo de 11 horas de duração e outras aporrinhações das viagens –para quem ainda não adivinhou, é em Paris. A segunda dista 5,9 km da minha casa e pode ser alcançada com uma pequena caminhada e algumas estações de metrô. Por isso, enfrento com mais conforto o que me separa da Tartelier Patisserie sempre que quero comer o melhor croissant da cidade, ou o melhor mil-folhas.

Roberto Seba/Folhapress
São Paulo, SP, Brasil, 23-11-2016: Tartelier Patisserie - Caixa doces variados - Macarons, Eclair, torta de chocolate e mil folhas(foto Roberto Seba/Folhapress) ***EXCLUSIVO REVISTA***
Caixa de doces variados da Tartelier

Se croissant já é uma coisa bem complicada de fazer (manteiga em profusão, trabalhada fria), mil-folhas é um desafio. Tem que ser montado na hora, senão fica molengo. O creme tem que ser muito bom, com baunilha real (estava me lembrando que o chef francês Olivier Roellinger oferece nada menos que 12 diferentes baunilhas na sua lojinha de temperos) e açúcar moderado.

É uma das minhas sobremesas favoritas –em empate com mais umas dez, mas não vem ao caso– e costumo ter mais decepções que alegrias aqui, nos restaurantes mais celebrados, ou viajando, em estrelados.

Os da Tartelier não falham, mil-folhas sempre frescos. Há uns festivais do doce, onde oferecem com outros sabores, mas eu gosto do clássico, com o creme de baunilha perfeito e as lâminas de massa folhada crocantes e corretamente sobrepostas.

E já que estamos lá "longe", na Saúde, é oportuno aproveitar o pain au chocolat, os citados croissants, as tortas. O lugar é agradável, uma velha fábrica de esquina, com bancos na calçada e um clima de cidade do interior.

TARTELIER PATISSERIE
ONDE Rua Visconde de Inhaúma, 455, Saúde, tel. 3459-2996
QUANDO seg. a dom, das 8h às 20h

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Bico doce
Já que estou no tema das viagens adocicadas sem ter que voar, aproveito para dizer que comi ótimos pasteis de nata no Empório Arte Nata. Pastéis de nata são parte daquela interminável lista de doces portugueses com leite, açúcar, gemas. Minha doçaria favorita, talvez, que pede uma vida dedicada a conhecê-la toda. Dizem que só em Lisboa valem a pena, mas dizem tanta coisa. Os pastéis de nata feitos de um modo especial (sempre há uma receita secreta envolvida nos mitos) são os de Belém. A lenda segue, os únicos pastéis de Belém que podem ser comidos são os que estão num raio de alguns metros em torno da Torre de Belém, na capital de Portugal, o que reduz a opção a uma confeitaria. Lendas são um enfeite para a vida, só isso. É bom estar lá e comê-los e acreditar. Mas na opção de poucos quilômetros adotadas pela coluna, vá de Arte Nata.

Formigão
E se quiser continuar na brincadeira, da viagem sem sair de casa, Vivi Wakuda, excelente confeiteira que foi destaque nesta mesma revista (na edição 311) faz um mil folhas de matchá de deixar monsieur Sadaharu Aoki pensativo (ele é o mais importante confeiteiro japonês a encantar os franceses, com lojas em Paris e Tóquio) e também um canelé que não envergonha Bordeaux, origem deste doce tão simples e maravilhoso. Acho que só por encomenda, não tem confeitaria, mas convencê-la vale a pena.

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Divulgação
(1) Niepoort Dry White, R$ 120 (Vinci)(2) José Maria da Fonseca Alambre Moscatel de Setúbal, R$ 110 (Decanter) (3) Grandjó Douro branco, R$ 59 (Imigrantes Bebidas) (4) Monbazillac Club des Sommelliers, R$ 39,90, 375ml (Pão de Açúcar)

Vinhos da semana
(1) Niepoort Dry White, R$ 120* (Vinci)
(2) José Maria da Fonseca Alambre Moscatel de Setúbal, R$ 110* (Decanter)
(3) Grandjó Douro branco, R$ 59* (Imigrantes Bebidas)
(4) Monbazillac Club des Sommelliers, R$ 39,90*, 375ml (Pão de Açúcar)

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