Folha de S. Paulo


Com pratos apimentados, restaurante Thai Chef traz a Tailândia para SP

Gabriel Cabral/Folhapress
Kung Pad Med Manuang, do no restaurante Thai Chef
Kung Pad Med Manuang, do restaurante Thai Chef

Nunca fui, nem irei à Tailândia. Sou um viajante caseiro, pouco aventureiro. Em minha defesa cito a frase do cineasta espanhol Luis Buñuel (1900-1983): "Gosto da previsibilidade e dos lugares que conheço, olho as mesmas coisas, como nos mesmos lugares; quando me convidam para viajar a um país longínquo recuso e digo: 'Mas, afinal, o que tenho para fazer em Nova Déli às 3 da tarde?'".Cito de memória, mas a afirmação está completa no livro dele, "Meu Último Suspiro".

Contento-me, então, com a afirmação dos que estiveram em lugares distantes e exóticos: "É como estar num autêntico thai". Com este impulso e aprovação de amigos com mais milhagem asiática, fui ao Thai Chef e imaginei cidades remotas. Gostei tanto que senti que até poderia ir a Bancoq, mas minha poltrona e minha rotina se impuseram.

Não tenho o fetiche do verdadeiro, ou não comeria deliciosas caixinhas de comida chinesa, coisa inventada por gerações de improvisadores. São muitas refeições na vida, podemos comer o produto aculturado, o simulacro, o banal. Há um lado importante de aceitação na crença, estava gostoso e me garantiram ser tailandês, funcionou no garfo, logo, foi bom.

Escolhi as versões apimentadas dos pratos, a do meio —eles têm três ofertas, pouco apimentada, apimentada e muito picante. Prefiro pouca pimenta, mas acho mais correto procurar "calor" nesta culinária.

Um Kang Panang (curry vermelho, leite de coco, pimentão, abobrinha e camarão), o Kung Pad Med Manuang (camarão frito com molho agridoce e castanha de caju) e o único que conhecia vagamente, o Pad Thai (que é o macarrão de arroz, com tofu e vegetais fritos, broto de feijão e... camarão).

Gabriel Cabral/Folhapress
Pad Thai de camarão, do Thai Chef
Pad Thai de camarão, do Thai Chef

A carne é sempre escolha do cliente, optei por camarão em tudo por ter lido que a cozinha do sul tailandês (origem da Chef Thai) é dos pescados, apesar da carne mais consumida no país ser a de porco.

Parece com a comida baiana? Não e sim, há ingredientes comuns como leite de coco e coentro, mas seria besteira uma aproximação, pois tem erva cidreira, tamarindo e prik kee noo, uma pimentinha fortíssima.

A apreciação técnica fica para os críticos. Eu me deleitei, comida intensa, mas delicada, a pimenta queima bem na boca mas não vai queimando depois, algo que aprecio bastante —que arda o lábio, mas não o esôfago. Claro que para os vinhos é dramático. Explico abaixo esta relação complicada.

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Vinhos da semana

Divulgação

(1) Goats du Roam Fairview White, Ravin, (R$ 121).
(2) Colomé Torrontés, Decanter (R$ 82).
(3) Casa Valduga Identidade Gewurztraminer, Vinhos e Vinhos (R$ 60).
(4) Salton Paradoxo Gewurztraminer, Rei dos Whiskys (R$ 39).

* valores de referência

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Lábios ardentes
Começar dizendo "esta comida é terrível para vinhos" é pegar o caminho errado para sugerir garrafas. O certo é pensar que há algum vinho que vai funcionar e dar um jeito nas escolhas —não é impossível.

Quase sempre, achar vinhos para beber com comida é bom senso e experimentação. Tem coisa que já se nota que não vai dar certo, outras é o teste que mostra, neste imenso campo de provas: a boca.

Há ocasiões em que você escolhe a comida para um vinho, ganhou uma grande garrafa e quer fazê-la brilhar quando aberta. No caso da comida tailandesa, é exatamente o contrário: esqueça os grandes vinhos. Melhor pensar na sua imponência, deixar a bebida ser coadjuvante, matadora de sede, conforto do palato aquecido pela pimenta.

Geralmente, se pode ler em qualquer manual, a resposta é um branco da uva Gewurztraminer. Ficou convencionado que ela, sendo bem aromática, vai bem com especiarias picantes. Mas seguir só regras faz o mundo previsível demais. E não é nada fácil achar Gewurztraminer de preço adequado por aqui (sugiro duas exceções). Acho mais sensato beber brancos elétricos, com boa acidez, sem madeira nenhuma. Sempre é melhor beber vinhos de bom preço, claro, mas aqui o preço se torna eliminatório. Abrir, por exemplo, um caro e delicado Borgonha branco seria besteira. Indico também Torrontés argentino e Chardonnays sem madeira, que ficam agradáveis. O corte estilo Rhône foi muito bem. Espumante pode ser uma ideia, mas não testei.


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