Folha de S. Paulo


A flute quebrou, viva a taça!

Fernando Sciarra/Folhapress
 São Paulo, SP, Brasil, 29-04-2016: Luiz Horta desenha taças. (foto Fernando Sciarra/Folhapress)

Já quebrei muitas flutes na vida, pelo seu formato perigoso, um erro de design, são um convite ao acidente. E são feias, algumas parecem um tubo de PVC cortado.

São também o terror social, você fica no coquetel, vernissage, recepção com aquele suporte de vaso na mão, o garçom tentando acertar e sempre derrama, ou transborda espuma, levando junto uma parte do prazer dos espumantes. Elas, que foram pensadas para valorizar a perolagem (o fio de borbulhas que sobe freneticamente) acabam por ajudar na perda desta graça.

Estava considerando substitui-las quando a revista inglesa Decanter levantou o assunto no início do ano. Uma desavença anunciada finalmente se consumou: champanhe não ama as flutes, seu formato é péssimo para a bebida, prejudica o aroma, logo atrapalha a fruição. Não significa voltar para os velhos cálices bojudinhos, que ficam para sorvete ou para guaraná em festa infantil, a taça agora é outra. Qual?

Eu já tinha assistido a uma aula prática e constrangedora sobre o assunto. Foi num almoço com um importante nome de Champagne (que ficará incógnito) em que foram servidos todos os seus rótulos, champanhes safrados raros, caros e especiais e os mais simples, também caros. A mesa do restaurante rigidamente posta com uma dezena de flutes para cada convidado.

Monsieur chegou, checou as garrafas, suas temperaturas. Quando viu a mesa fez com a boca um "buf" francês e determinou: "Troquem tudo!". O sommelier ficou confuso: "Trocar?". "Quero taças grandes para borgonha branco". Assim foi feito. Os champanhes agradeceram e justificaram o hashtag #mesatensa.

Há um papo científico sobre tudo isto, um austríaco chamado Riedel, que os mais enófilos devem conhecer de nome (e venerar) inventou que tínhamos de comprar muito cristal na forma de seus copos chiques para cada vinho, uva, região. É o trabalho dele, nada contra, até conheci o personagem numa de suas visitas a São Paulo.

Mas em casa, com a porta fechada e a cortina baixada, uso, para todos os vinhos, duas taças no máximo; em alguns dias de furor estético até mais, conforme meu humor arrumando a mesa, só pelo efeito cênico.

Tenho até coloridas, o pavor de todos os sustos para gente do vinho, acho que a diversão é mais importante que qualquer coisa. Importante é não aceitar o dogma: se bebermos um vinho na taça errada vem a danação eterna para o líquido. Esqueça a afetação, principal inimiga da alegria, quem nunca brindou com copo americano?

Nem precisa sair espatifando taças, não se machuque nem destrua nada, um dia você esbarra numa, casualmente. Noutro, coloca uma flor e vê que funciona para isto...

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3 TAÇAS

Divulgação
Taças para a coluna Volta e Mesa

A Riedel de cristal
Não quero passar a ideia de que não gosto do que faz a empresa austríaca. O senhor Riedel nos colocou em alerta para o fato importante: o formato das taças influi na bebida. Portanto, comprem taças diferentes. É um comerciante, e se formos segui-lo teremos que alugar um apartamento para guardar tudo. Tem até para Coca-Cola (não é brincadeira). Provei vários modelos da marca, a taça de champanhe (no centro na foto), delicada e aberta como um lírio, permite cheirar a bebida e é objeto de desejo.

A de vidro, fácil de achar
Em casa, esvaziei o armário sobre a mesa e comecei a testar taças. Duas se saíram muito bem, a Lehmann (à direita), desenhada com consultoria de Philippe Jamesse, sommelier no Les Crayeres, em Reims. A outra comprei no supermercado Pão de Açúcar, da marca Bormioli Rocco (à esquerda), de vidro fino. Achei-a partindo da tese que uma taça bojuda daria mais prazer que uma flute. O material faz diferença, que seja fino, mas decisivo mesmo é o formato. A Riedel fica para o grande brinde, as de vidro para todo dia. E quem toma champanhe todo dia? Alguma diva do cinema. Mas bebemos espumantes e há boa oferta. Sugiro quatro rótulos acima.

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Vinhos da semana

Divulgação

Fino Champagne Peterlongo Extra Brut, Vinhos e Vinhos (R$ 156)*.
Blanquette Antech Reserve Brut 2013, Delacroix vinhos (R$ 92)*.
Adolfo Lona Nature, Extra (R$ 79)*.
Lírica Brut Hermann Decanter (R$76,40)*.

*valores de referência


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