Folha de S. Paulo


Brincadeiras no escritório não têm graça para funcionários mais novos

Um colunista do "Financial Times" me disse que, outro dia, foi furtivamente até o computador de um colega e disparou uma mensagem ao chefe do homem. Dizia: "Não posso mais conter meus sentimentos por você". O objetivo dele era esperar meia hora e, em seguida, revelar a autoria. Mas surgiu um imprevisto, ele esqueceu e não contou sobre o que fez.

O que mais me impressionou sobre essa história não foi sua infantilidade nem seu cheiro de homofobia. Foi que tal comportamento se tornou um anacronismo. Quase ninguém mais faz brincadeiras desse tipo no trabalho. Minha geração crescia com situações como essa, mas a maior parte dela (com exceção do meu colega) já amadureceu e parou, enquanto a geração mais jovem não cresceu com as pegadinhas. Jornalistas de 20 e poucos anos de idade parecem pensar que brincadeiras no escritório não são engraçadas nem inteligentes.

Um conhecido meu, que é sócio em um escritório de advocacia, me contou que os advogados jovens tem tanta fobia a pegadinhas quanto os jornalistas jovens. O tipo de brincadeiras em que seus colegas e ele se envolviam no início da carreira na década de 1990 são inconcebíveis hoje.

Eles botavam palavras aleatórias como "urso de pelúcia" no meio de projetos de prospectos para ver se alguém notava. Entravam no escritório vazio de um sócio e enviavam mensagens aterrorizantes para os colegas desavisados. Meu conhecido uma vez perdeu uma aposta para outro advogado e, como resultado, teve que usar um sutiã vermelho sob uma camisa branca no dia seguinte e tirar o casaco durante uma reunião com o cliente.

Escritas, essas pegadinhas não soam especialmente engraçadas, mas era como a minha geração lidava com os principais inconvenientes da vida profissional – tédio, estresse, longas horas e a necessidade de fingir que levavam coisas estúpidas a sério. Uma boa brincadeira tornava tudo tolerável.

Na semana passada, procurei alguns dos estagiários que estiveram no FT durante cerca de 18 meses. Quantas brincadeiras tinham feito ou foram feitas com eles no trabalho, eu perguntei. Não apenas a resposta foi "nenhuma", mas eles pareceram não entender a pergunta. Eu me vi entretendo-os com as brincadeiras que fazíamos. Contei a eles sobre uma vez em que um colega enviou uma mensagem a toda a equipe, supostamente de um editorialista, um "sabe-tudo" de economia, perguntando: "Quem é Alan Greenspan?". Os estagiários riram educadamente. Nada parecia divertido.

É essa aversão às brincadeiras que define os "millennials", muito mais do que qualquer uma de suas outras supostas características - sentimento de merecimento, gadgets, preguiça. Minha geração também tem esse sentimento, ama gadgets e é preguiçosa, mas não podia resistir a um e-mail de pegadinha. A deles pode.

Há quatro razões para essa aversão. A primeira é que os empregadores têm nos tornado mais politicamente corretos, mais obedientes a regras e mais cerceados por códigos de conduta de 500 páginas. A cultura corporativa moderna tem uma visão sombria sobre brincadeiras, entendendo-as como bullying ou assédio sexual.

A segunda é que a maioria das pessoas mais jovens aprendeu que coisas como brincadeiras por e-mail não existem; que apenas gente idiota e antiga persiste nisso. Quando um sócio sênior do escritório de advocacia dos EUA Weil, Gotshal & Manges enviou uma mensagem de 1º de abril no ano passado proibindo e-mails fora do horário de trabalho, os funcionários ficaram incomodados. A mensagem se tornou viral e ele foi forçado a emitir um pedido de desculpas humilhante.

A nova seriedade é também porque a vida é muito mais competitiva – a terceira razão. Minha geração nunca sentiu qualquer necessidade especial de se comportar de uma forma profissional no trabalho, exceto quando estritamente necessário. Por outro lado, qualquer pessoa de 25 anos de idade que conseguiu trabalho em uma grande empresa teve de apresentar ótimo desempenho acadêmico, escalar o Kilimanjaro, criar instituições de caridade, tocar viola semiprofissionalmente e aprender sozinha a programar. Brincadeiras infantis simplesmente não se encaixam no perfil.

A quarta e mais poderosa razão é que os jovens profissionais não acham que seja OK fingir ser outra pessoa on-line. Um estagiário do FT explicou que suas personas na internet são de tal forma uma parte deles – suas vidas inteiras estão on-line – que seria uma traição grave se qualquer pessoa, especialmente um colega, tentasse mexer com elas.

Ainda assim, a morte da brincadeira me parece uma vergonha terrível. O trabalho de escritório é implacável e uma piada à custa de outra pessoa pode animar muito alguém. Grandes brincalhões não eram algozes. Eles sabiam como fazer isso com carinho o suficiente para que nem mesmo a vítima ficasse marcada por muito tempo.

Quando eu era nova no FT, em 1985, um colega em particular costumava se deliciar ao me telefonar do outro lado de escritório. Ele fingia ser o presidente-executivo de uma empresa, sobre o qual eu tinha escrito, enfurecido, reclamando que meu artigo estava cheio de erros. Eu gaguejava e ficava vermelha enquanto meu colega e seus amigos assistiam, se divertindo muito. Embora mortificada, eu finalmente vi o lado engraçado. Dei o troco no brincalhão me casando com ele.

Tradução de MARIA PAULA AUTRAN


Endereço da página: