Folha de S. Paulo


Febre de futebol

Nesta semana, uma conta de Twitter atribuída ao escritor Nick Hornby lembrou que seu primeiro livro, "Fever Pitch", ou "Febre da Bola" no Brasil, fez 21 anos. E perguntava se alguém lembra a primeira vez que leu as "memórias atemporais" do autor. O livro é autobiográfico.

Responsável por alguns dos romances mais importantes dos últimos anos, com "Febre da Bola" o inglês Hornby eterniza o futebol na literatura, contando como foi ao estádio pela primeira vez, no caso o do Arsenal de Londres, num estado de ânimo deplorável e levado pelo pai, que acabara de se separar da mãe. O futebol, o estádio, o Arsenal o tirou da lama existencial.

A bola mudou seu ânimo e, a partir daquela experiência de criança, despertou seu caráter, apurou seus sentimentos, deu-lhe cultura, burilou sua erudição e seu bom humor, ensinou a lidar melhor com as frustrações, o transformou em homem. Transformou-o em escritor.

Tirando a efeméride quebrada, o Twitter de Hornby que não é de Hornby, falando de um livro lá de 1992, "Febre da Bola" (a Companhia das Letras relançou o livro no Brasil em 2012) podia ser minha autobiografia (mudando país, time, época). Podia ser a sua, se você gosta de futebol a ponto de ler colunas como esta.

Se um livro fosse escrito nestas últimas semanas, misturando experiências pessoais emotivas com fatos futebolísticos, talvez saíssem boas literaturas. Usando o próprio Arsenal de Hornby, o time é líder do Inglês e tem revelado ao que parece um novo ídolo local, o volante Wilshere. Ídolo, no bom sentido britânico, é aquele que faz história dentro de campo e mais ainda fora dele.

Percorrendo todas as categorias do English Team desde os 16, o tatuadão e algo bad-boy Wilshere, 21 hoje, é capaz de marcar gols importantes na mesma semana em que dá manchetes aos tabloides sendo pego fumando em uma balada em Londres. Dizem que ele chega ao Brasil botando o ídolo Lampard no banco, se a Inglaterra vier mesmo.

Uma interessante história de vida poderia ser contada por um etíope que botasse em paralelo sua seleção e a revolução que ela tem causado. Em sua melhor campanha em Eliminatórias de Copa, a Etiópia está a um jogo de chegar a um inédito Mundial. Pega a Nigéria mês que vem precisando mais que vencer os reis locais do esporte, fora de casa.

Extremamente pobre e segunda nação mais populosa da África, a Etiópia experimenta crescimento econômico, social e futebolístico. Seis grandes estádios estão sendo construídos e cerca de 2.000 novas escolinhas foram abertas só neste ano, cujos principais "craques", os tipo-exportação, jogam no máximo em ligas do Sudão, África do Sul.

A "Febre de Bola" também foi detectada forte no Maranhão e na Europa nos últimos dias, com façanhas de Sampaio Correia e Bélgica. Mas teria que ter o espaço de um livro de Nick Hornby para falar de todas.


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