Folha de S. Paulo


Escola do 10

Tudo que sabemos pouco mais de oito meses antes da Copa no nosso quintal é que a seleção tem Neymar e mais dez. Tem Júlio César, já divulgado pelo técnico e já devidamente machucado com fratura no dedo. Então, por enquanto, voltemos a considerar só o Neymar mesmo.

Nosso passatempo predileto, aqui, é tentar pensar com a cabeça do Felipão: vai ao Mundial quase todo o grupo campeão da Copa das Confederações? Os volantes são mais úteis para marcar ou para chegar ao gol? Quais os nomes fora da lista que terão o clamor popular e ele por teimosia (ou convicção, vá lá) nem vai considerar? E o real camisa 10, que não temos? Não dá para considerar nem os veteranos craques Ronaldinho Gaúcho e Alex?

Mas é exatamente nessa, quando a gente acha que esse 10 falta, que vem um cara como o técnico-treta José Mourinho dizer que não só a gente tem como ele já é o nosso 10.

O técnico que "aposentou" o Kaká (outro em quem a gente gosta de ainda acreditar) e burilou a bola do camisa 10 da Alemanha (Özil, o "melhor 10 do mundo", segundo ele) está encantado mesmo é com Oscar e a "escola brasileira".

Mourinho, chefe de Oscar no Chelsea, revelou em entrevista ao diário inglês "The Guardian" que Oscar é a cabeça pensante do time. Mais: que nenhum país tem talento para formar camisas 10 como o Brasil.

O português talvez tenha dado um tapinha maroto num certo neocomplexo de vira-latas nosso, de achar que os novos camisas 10 sejam artigo em extinção no futebol brasileiro.

E, ao contrário do que prega Felipão para seus jogadores do meio para frente, Mourinho não quer ver Oscar com (tantas) funções defensivas. Diz que vai "construí-lo" para ser o 10 que ele pensa ser perfeito. Que outros jogadores ocupem as laterais, para ajudar na marcação.

Talvez dois dos meias dessa escola brasileira que tanto encanta Mourinho, ainda "fora do radar" da lista de convocação, sejam Everton Ribeiro, aqui, e Philippe Coutinho, lá.

O "10" do Cruzeiro, o melhor jogador do melhor time do Brasileirão, mostra fase impressionante mesmo quando joga mal, ou não tão bem, como domingo contra o Corinthians, no Pacaembu. Quase todo o jogo do time mineiro passa pelos seus pés (e por sua cabeça).

Já Philippe Coutinho, talvez o principal jogador dessa arrancada inicial do Inglês, onde habitam Mourinho e Oscar, viu seu time ir da liderança à quinta colocação em uma partida. A que ele não jogou.

Coutinho, 20, machucou o ombro e sumirá por três semanas. Mas, quando em campo, a habilidade de camisa 10 que mostra é suficiente para provocar uma "ressurreição do Liverpool". E arrancar comentários ingleses na linha "uma mistura de Messi e Ronaldinho" em estado embrionário, pelas arrancadas, passes "da cartola" e viradas de jogo.

É Kaká. É Alex. É R10. Não está fácil para vocês, mesmo.


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