Folha de S. Paulo


Imagino no Brasileirão

Agora que dentro de campo o Brasil voltou a ser um time de respeito, ao mesmo tempo que, fora dele, nas ruas, o povo tenta fazê-lo um PAÍS de respeito, foi notável ver que futebol e movimentos sociopolíticos tiveram fortes ligações no Maracanã, anteontem, na final da Copa das Confederações.

Ouso dizer que o momento sério pelo qual o país atravessa foi o que levou a torcida no Rio a cantar em vários tons acima e de modo completo o abreviado hino nacional protocolar. E esse heroico brado de quase 78 mil pessoas por sua vez levou os jogadores ao retumbante início contra a Espanha, que resultou em gol e seguidas chances perdidas de imediato, até que o poderoso adversário resolvesse mostrar que, sim, havia entrado em campo.

É óbvio que futebol é só um pequeno recorte dentro da quantidade de questões importantes que o Brasil tem para resolver como nação, para as quais a voz das ruas reivindica solução imediata. Mas não dá para deixar de lembrar que, para os brasileiros, futebol é muito mais que uma mera modalidade esportiva: faz parte de sua cultura.

Dito isso, e entrando só na seara do futebol enquanto cultura, vem aí uma curiosa fase do Brasileirão, a retomada dentro de uma nova ordem nacional, que é o uso doméstico do legado que a Copa das Confederações deixou.

E aí de novo estará o futebol, o povo e a correlação cultural da qual falamos acima.

Estive no Maracanã no domingo, com ingresso comum, e sentei-me separado dos meus amigos, porque "o sistema" escolheu meu lugar na hora da compra. Não eu. Não eles.

Como será quando for a um jogo do meu time, na minha cidade? Vou poder me sentar perto da minha turma? Como separarão torcidas rivais?

No meu setor, não teve jeito. Tirando os poucos momentos em que o coro "Senta, senta" era maior que o "Brasil, Brasil", todo mundo ficava de pé, como nos "velhos tempos".

Imagina um Flamengo x Vasco, por exemplo, na Arena Maracanã. O que farão com a Raça Rubro-negra e Torcida Jovem? Não dá para não aceitar que as organizadas existem, são numerosas e irão acompanhar seus times. Será que dirigentes e autoridades já sabem o que fazer quando o problema aparecer?

Um exemplo que vem do Sul é o do Grêmio. Grande parte da torcida já comprou as cadeiras localizadas. Amigos frequentadores combinaram setores e compraram em bloco.

Mas o Grêmio chamou a organizada para conversar. Deu a eles um setor atrás do gol, livre de número x, cadeira y. A pedido, todos assistem em pé, sem cadeiras. E botou um preço "popular" para esses ingressos: R$ 40.

Flamengo e Santos, pelo Brasileiro, em maio, jogaram no novo Mané Garrincha, em Brasília. Lá a entrada mais barata custava R$ 80.
Vamos acompanhar como tudo se assenta.


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