Folha de S. Paulo


De Louis C.K. e Pamela Adlon, 'Better Things' é a melhor novidade na TV

Se você tem filhos ou decidiu não os ter, "Better Things" chegará como um sopro reconfortante de autopiedade e validação, com direito a risadas ora cínicas ora histéricas. Se você não os tem mas os quer, esteja ciente de que há risco de se apavorar com esse retrato cru e banhado em progesterona de uma mãe solo que se desdobra para criar três meninas.

A comédia que o Fox Premium estreia no Brasil nesta terça (10) é uma crônica primorosa em suas sutilezas e honestidade saída da cabeça da dupla de comediantes Louis C.K. e Pamela Adlon, que já havia contracenado em "Louie" (2010-15), ele como o personagem-título e ela como sua namorada ocasional Pam.

Aqui eles são cocriadores e, como em "Louie", produtores e roteiristas. A dona do show, porém, é Adlon, que também dirige e interpreta a atriz e dubladora Sam Fox, uma espécie de Louie com dois cromossomos X que lhe rendeu uma indicação ao prêmio Emmy deste ano de melhor atriz de comédia.

Em 35 anos (ela começou aos 16), é sua primeira vez na categoria. Indicações passadas vieram com "Louie" (atriz convidada, roteirista e produtora) e um prêmio com a dublagem de "O Rei do Pedaço" (a voz de Adlon está em quase toda a animação bizarra, como "Titio-Avô").

A habilidade da dupla em recortar o cotidiano e, sem adoçá-lo artificialmente, fazê-lo parecer interessante e divertido mesmo quando caótico ou melancólico é imbatível na TV atual, na qual cronistas –e não malabaristas– fazem falta.

Esse talento serve para nos lembrar que relatos fiéis, quando compostos com as palavras e gestos certos e a devida atenção ao outro, são muitíssimo mais atraentes do que a imagem pasteurizada e bidimensional publicadas nas redes sociais.

A Sam de Adlon é uma mãe esforçada –mas que frequentemente falha– de três garotas em amadurecimento: a adolescente Max, vivida por Mikey Madison; a pré-adolescente Frankie, papel da ótima Hannah Alligood; e a menina Duke, interpretada por Olivia Edward.

Elas têm pais diferentes –todos fora de cena, embora frequentemente lembrados como ineptos–, e Sam está bem com isso quase sempre. Completa a família a mãe da atriz, Phyllis (a britânica Celia Imrie, ácida), um resquício da era hippie com alguma dificuldade em assumir responsabilidades.

O apelo feminista é óbvio, entretanto dispensa panfletos e lições de moral. Adlon é versátil o suficiente para dar a Sam camadas variadas, fugindo do estereótipo de mãe-atrapalhada, mulher-à-beira-da-menopausa e outras limitações guardadas para as atrizes depois dos 40. Sexy e terna, irritadiça e mesquinha, sua personagem é universal, reconhecível em todas (todos) nós.

Como se o banquete não fosse farto, a dupla nos mima com participações especiais discretas como as de Julie Bowen ("Modern Family"), Constance Zimmer ("House of Cards") e do músico Lenny Kravitz.

A temporada que estreia aqui, com dez episódios de 23 minutos, já passou nos EUA, onde a segunda estreia no mês que vem. Eba.

"Better Things" será exibida no Fox Premium 1 às terças, 22h30, a partir desta semana


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