Folha de S. Paulo


Volta de 'Game of Thrones' nos salva do noticiário

Quando "Game of Thrones" voltar ao ar para sua sétima temporada, neste domingo (16), seu status de fenômeno cultural estará consolidado.

Há séries excelentes —até melhores do que este drama de fantasia inspirado nos livros de George R. R. Martin— que marcaram a última década e meia como a "nova era de ouro da TV"; há séries que subverteram a forma de contar uma história na tela pequena; que destrincharam tabus e elegeram anti-heróis como protagonistas e trouxeram ao primeiro plano minorias. Há séries de arco narrativo perfeito e interpretações memoráveis (mais do que aqui).

Divulgação/HBO
7ª temporada de GAME OF THRONES Foto: Divulgacao ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Emilia Clarke (Daenerys) na sétima temporada de "Game of Thrones"

Mas é pouco provável que qualquer uma delas —"Sopranos", "Breaking Bad", "The Wire", "House of Cards", "Mad Men", "Mr. Robot", "Sex and the City", "Girls", "Orange is the New Black", "Veep", "Louie", "True Detective" etc.— persista como fenômeno de massa de qualidade como "GoT".

Pouco após o final da sexta temporada, a melhor exibida até agora num crescendo raro para um gênero que costuma perder fôlego após seus primeiros anos, a revista americana "Time" afirmou que a produção de tintas medievais da HBO se tratava da última série de consenso a qual assistíamos. E é verdade.

Com streaming para adequarmos a programação aos nossos horários e a gigantesca oferta de séries atuais e passadas para assistirmos em maratona ou no momento e na tela que convier, não há mais nada ao estilo "final de novela", todos os espectadores ligados ao mesmo tempo, comentando cena a cena.

Além disso, nenhuma das séries citadas acima se coloca tão perto da unanimidade como "GoT". São produtos excelentes, mas que tendem a agradar um dado nicho (e esta é a minha lista; a sua pode ser diferente, num reforço do argumento).

É difícil listar os porquês, mas um motivo que parece evidente é que "Game of Thrones" é uma espécie de escapismos às avessas, muito providencial em um momento em que o noticiário tem sido tão deprimente no Brasil, nos EUA e alhures.

Com suas decapitações, estupros, capações, esquartejamentos, traições, incestos, infanticídios, torturas e mortes escabrosas, tudo isso temperado por guerras e uma ameaça sobrenatural, Westeros faz qualquer lugar no mundo parecer agradável.

Com tanta desgraça travestida de fantasia na tela, é quase possível esquecer balas perdidas, hordas de dependentes químicos ou de refugiados famintos vagando por grandes cidades, atentados e um lamaçal político que, em suas proporções tsunâmicas, corta continentes e faz qualquer outra alegoria televisiva sobre o tema parecer modesta.

Quando "Game of Thrones" retornar nesta noite para uma temporada curtinha, de sete episódios, que precede a temporada final de só seis em 2018, a aliança política que mais interessará será aquela entre Targaryen e Stark, entre Daenerys (Emilia Clarke) e Jon (Kit Harington).

Não se sabe qual dos dois é o salvador de Westeros; não se sabe como Sansa (Sophie Turner) e Arya (Maisie Williams) resgatarão o nome da família, ou o que restará de King's Landing após o atentado de Cersei (Lena Headey).

Não se sabe se os White Walkers finalmente chegarão à civilização bem na hora da guerra. E que expectativa tremenda para saber o que o roteiro reserva a personagens menores, mas cruciais, como Sam (John Bradley-West) e Brienne (Gwendoline Christie), e como os manipuladores Tyrion (Peter Dinklage), Baelish (Aidan Gillen) e Varys (Conleth Hill) acertarão suas contas.

E, desta vez, sem livros para seguir porque ainda não foram escritos, ninguém, ninguém mesmo, sabe de nada.

"Game of Thrones" reestreia no canal pago HBO neste domingo (16) às 22h


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