Folha de S. Paulo


Gus Van Sant e Dustin Lance Black retratam gênese do movimento LGBT

Eike Schroter/Divulgação
O ator Austin P. McKenzie (ao centro), que interpreta Cleve Jones em 'Quando Fazemos História
O ator Austin P. McKenzie (ao centro), que interpreta Cleve Jones em 'Quando Fazemos História'

Em tempos de política identitária cada vez mais forte –e com essa força por vezes contestada com termos esdrúxulos como "racismo reverso" e "heterofobia"– é salutar assistir a "Quando Fazemos História" ("When We Rise"), que o Canal Sony estreia nesta quarta (12) com episódio triplo.

A minissérie, exibida nos EUA no primeiro semestre pelo canal aberto ABC, da Disney, retrata a gênese do movimento civil pelos direitos gays nos EUA a partir do início dos anos 1970, logo após a revolta de Stonewall (1969) em Nova York –a série de protestos após a polícia invadir de forma violenta um bar gay.

Para tanto, toma como cenário a São Francisco do livro "When We Rise', de Cleve Jones, ativista dos direitos dos homossexuais próximo a Harvey Milk, um dos primeiros políticos abertamente homossexuais dos EUA e precursor do orgulho gay.

Nascido em família conservadora em Indiana, no Meio-Oeste americano, Jones revelou ser gay em casa aos 18 anos (seu pai, psiquiatra, que tentou convencê-lo a se submeter à "cura gay"), antes de se mudar para a cidade que se tornaria epicentro do movimento.

Na série ele é vivido primeiro pelo talentoso novato Austin P. McKenzie, e depois por Guy Pierce, de "Amnésia". Os demais protagonistas são Diane (Fiona Dourif e Rachel Griffiths), Roma (Emily Skeggs e Mary-Louise Parker) e Ken (Jonathan Majors e Michael Kenneth Williams), todos envolvidos com os primórdios do movimento pela igualdade de direitos civis.

É a partir da história dos jovens ativistas, acompanhada com de forma episódica até sua maturidade, que a minissérie (no Brasil, dividida em oito capítulos) mostra os obstáculos e reviravoltas de um movimento que, embora amplamente estabelecido hoje, não conseguiu a plena consolidação dos direitos que reivindica.

O choque ao ver nas telas pessoas serem espancadas por causa de sua orientação sexual muitas vezes com a anuência ou até a participação da lei serve para nos lembrar que isso ainda ocorre rotineiramente nas ruas de muitas cidades (a começar por São Paulo), ainda que tenha passado a ser considerado crime.

Por trás da minissérie estão Dustin Lance Black –o jovem e premiado roteirista de "J. Edgar" (2011)– e o veterano Gus Van Sant, do sensível e contundente "Elefante" (2003, sobre assassinos adolescentes ) e dos icônicos "Drugstore Cowboy (1989) e "Garotos de Programa" (1991). Os dois trabalharam juntos em e "Milk: A Voz da Igualdade" (2008), que rendeu o Oscar de melhor roteiro original a Black.

A câmera quase etérea de Van Sant e o texto contundente de Black fazem uma belíssima dupla para tratar de uma das bandeiras políticos mais assertivas da virada de século, com um grau de romantismo bem medido que, ainda que edulcore seus heróis, deixa espaço para críticas ao preconceito dentro do próprio movimento.

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"Quando Fazemos História" será exibido às quartas, às 20h, pelo Canal Sony a partir desta semana


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