Folha de S. Paulo


Nova 'Malhação' ganha ares de 'Girls'

É uma novelinha, mas tem cara de série. Tem 22 anos, mas graças ao olhar delicado e sutil do dramaturgo e cineasta Cao Hamburger, que abraçou o projeto e escreve o novo roteiro, "Malhação", o folhetim adolescente que a Globo leva ao ar desde 1995, parece novidade.

Não tem como esconder que a temporada atual, que estreou na segunda passada (8) com o subtítulo "Viva a Diferença", bebe na fonte de "Girls" (a recém-encerrada após seis temporadas na HBO) e de outras séries calcadas na questão identitária, fundamental nesta geração muito mais do que em outras.

É uma atualização mais que bem-vinda. Pela primeira vez, a novelinha deixou o Rio como cenário e mudou-se para São Paulo, que aparece linda e amorosamente filmada pelo diretor Paulo Silvestrini.

Mauricio Fidalgo/Globo
MC Guimê faz participação especial na nova 'Malhação
MC Guimê faz participação especial na nova 'Malhação'

Pela primeira vez, também, abdicou de vez da academia que justifica o nome (esta já tinha passado ao segundo plano há mais de década) e dos surrados triângulos amorosos juvenis para falar de descobertas e etapas do amadurecimento —convivência, responsabilidade, amizade e o famigeradíssimo "empoderamento".

Desta vez, são cinco meninas protagonistas, em um esforço para ressaltar as diferenças que acaba caricato, embora perdoável.

Há a mãe adolescente Keyla (Gabriela Medvedovski) e a hacker engajada Ellen (Heslaine Vieira), que moram em bairros afastados do centro estudam em uma escola pública onde a mãe de Benê (Daphne Bozaski), que tem dificuldades de interagir socialmente, é zeladora. E há a certinha Tina (Ana Hikari), que tenta quebrar tradições, e a riquinha revoltada Lica (Manoela Aliperti), alunas de um colégio particular tradicional.

Assim como "Girls" terminou com a protagonista tornando-se mãe, um lugar-comum da ficção para dizer que um personagem virou gente grande, "Malhação" começa com o parto de Keyla em um vagão de metrô em pane num dia de chuva —é isso que unirá cinco amigas tão diferentes.

São estereótipos fáceis —ainda por cima, uma é gordinha, outra é negra, outra tem ascendência japonesa, outra é tida como "esquisita" por sua dificuldade de sociabilização e a quinta se parece mais com protagonistas convencionais de novela—, que o elenco central afinado consegue tornar naturais nos personagens.

No elenco de apoio, Lúcio Mauro Filho e Marcelo Anthony interpretam dois dos pais das meninas.

A melancolia do amadurecimento, que Hamburger mostrou tão bem no lindo "O Ano que Meus Pais Saíram de Férias" (2006), está presente de forma sutil, o que torna os personagens menos bidimensionais do que em outras temporadas.

Vai ser impossível levar os 200 episódios previstos sem enxertar no meio historinhas de amor enroladas e conflitos mais pueris ligados à escola e às escolhas de vida, como é de praxe na novela (nesta primeira semana, fomos poupados).

Mas que a mudança de roupagem de discurso teve efeito positivo sobre "Malhação" é inegável.

"Malhação - Viva a Diferença" é exibida de segunda à sexta pela Globo às 17h45; os episódios estão disponíveis no GloboPlay


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