Folha de S. Paulo


Drible na morte ressurge no bom suspense sobrenatural 'The OA'

Depois da esquecível mas bem-sucedida "Sense 8", a Netflix volta ao universo paranormal com a intrigante "The OA", sobre uma mulher desaparecida que ressurge para contar a experiência de voltar da morte. Com os oito episódios no ar desde dezembro, o drama ganhará segunda temporada, anunciou a plataforma de vídeo nesta semana.

O tema pop e o suspense delicadamente construído ajudaram "The OA" a conquistar fãs. Mas o que a faz superar seus pares é a sutileza com que suas referências são costuradas.

Embora aborde a questão do pós-vida e use as perguntas em torno da personagem central para fisgar o espectador, "The OA" é muito mais uma serie sobre amadurecimento e laços humanos.

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Cena de 'The OA', que tem oito episódios no ar e ganhará segunda temporada
Cena de 'The OA', que tem oito episódios no ar e ganhará segunda temporada

Nesse sentido, lembra muito os filmes adolescentes dos anos 80, como o clássico de John Hughes "Clube dos Cinco" (1985), sobre a improvável amizade entre estudantes de personalidades discrepantes confinados após a aula.

As citações, porém, são etéreas e profundas, uma espécie de espelho invertido (e muito mais interessante) da caricatural "Stranger Things", da mesma Netflix.

Assim, a trama ganha vida própria com um perfume discreto de familiaridade, resultado da mistura precisa da iconografia oitentista com obras literárias de apelo universal e perpétuo como "O Retrato de Dorian Gray" (1890), de Oscar Wilde, e a lenda alemã "Fausto", mais conhecida na peça de Johann Wolfgang von Goethe (1808).

Em "The OA", a jovem Prairie (Brit Marling, também roteirista) volta para a casa dos pais adotivos, no Estado americano sulista do Missouri, de onde fugira sete anos antes. Cega desde a infância, ela agora enxerga e imediatamente atrai a curiosidade dos habitantes locais, que a tomam por louca.

Prairie tem uma história pregressa que aos poucos vai sendo revelada àqueles que se interessam em ouvi-la. É, como em "Clube dos Cinco", uma turma de párias: o bonitão problemático (Patrick Gibson), o estudioso tímido arrimo de família (Brandon Perea), o menino abandonado (Brendan Meyer), o garoto transgênero (Ian Alexander) e a professora frustrada (Phillys Smith, de "The Office").

Aos poucos, Prairie se torna o messias desses "outsiders", que vão tecendo laços perenes como os formados por ela com seus colegas de cativeiro nos anos em que esteve desaparecida. É por eles, aliás, que ela está ali. E é deles que deve vir a resposta pela qual seu novo séquito aguarda.

Marling, que compõe com destreza sua personagem em meio a um elenco eficaz que conta com Jason Isaacs (o Lucius da cinessérie "Harry Potter") e Riz Ahmed (de "The Night Of"), criou a série junto com o diretor Zal Batmanglij, com quem já havia trabalhado antes nos filmes "A Seita Misteriosa" (2011) e "O Sistema" (2013). A ver se a parceria mantém o vigor na nova temporada, cuja data de estreia não foi anunciada.

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Os oito episódios da primeira temporada de "The OA" estão disponíveis na Netflix


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