Folha de S. Paulo


'Unidade Básica' abrasileira 'séries de médico' e reaviva gênero exaurido

Nem só de sangue, romances tórridos e desgraças novelescas precisam viver as séries sobre hospital. Ao menos, não no Brasil. Ao acrescentar uma dimensão humana calcada na empatia e na identificação —não na tragédia—, "Unidade Básica", produção brasileira que estreia neste domingo (11) no Canal Universal, dá sobrevida a um dos subgêneros mais exauridos da TV.

Centrada em uma Unidade Básica de Saúde na periferia de São Paulo, com oito episódios de 27 minutos amarrados por um elenco enxuto mas eficiente, a produção da Gullane (a primeira original do Universal) consegue ser leve e até informativa em um filão que costuma patinar entre sofrimento e "sofrência", aquele melódico culto à dor embalado em verniz de entretenimento.

Divulgação
Fotos de divulgacao da nova serie do canal Universal chamada Unidade Basica, na qual uma medica recém-formada aprende a trabalhar em uma UBS ao lado de um medico de famiia. Credito: Divulgacao ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
O ator Caco Ciocler interpreta o médico Paulo em "Unidade Básica", série original do Canal Universal

A estrutura da narração, entretanto, segue o modelo das inescapáveis irmãs americanas, com um caso por episódio para ser resolvido e a manutenção, como pano de fundo, do conflito entre a personalidade dos protagonistas e sua missão como médicos.

O ator Caco Ciocler diz ter se inspirado em "House" para compor seu doutor Paulo, um generalista que está na UBS há 15 anos e já desenvolveu certo cinismo em relação aos colegas, mas não em relação aos pacientes e nem à profissão (diferentemente do doutor House de Hugh Laurie, que na maior parte do tempo só leva a sério a si mesmo).

Ciocler é excelente ator e reveste de humanidade e de camadas seu personagem, mas seria injusto compará-lo ao colega britânico até pela diferença da extensão exigida por cada um dos dois papeis.

Há uma sofisticação de humor negro no personagem de Laurie que não ecoa no de Ciocler, ainda que em seus melhores momentos ele faça rir naturalmente, como uma boa companhia de copo.

Sua antogonista/coprotagonista é a rígida e pragmática Laura (Ana Petta), médica recém-formada que quer ter a UBS no currículo apenas para solidificar e catapultar sua formação. Há uma óbvia tensão sexual e profissional entre os dois, mas o desfecho de um eventual romance felizmente não norteia a trama.

Isso evita que a série se transforme em uma novela interminável com uma mocinha suspirante à la Merdith Grey, como "Grey's Anatomy".

O que torna "Unidade Básica" realmente diferente de seus pares, porém, é o entorno dos doutores.

Ao colocar um agente comunitário (Vinícius Oliveira, o menino Josué de "Central do Brasil") como personagem central, e a importância do posto no cotidiano do bairro onde ele está fincado como eixo das histórias, o roteirista Newton Cannito deu uma dimensão brasileira a um tipo de drama até então visto como essencialmente americano.

Com esse aspecto, vem o fato de aqui pesarem menos os diagnósticos mirabolantes e mais as consequências sociais e familiares que cada tratamento envolve. Laços, em "Unidade Básica", importam mais do que germes.

"UNIDADE BÁSICA" estreia neste domingo (11), às 22h, no Canal Universal


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