Folha de S. Paulo


Série 'BrainDead' usa insetos ETs para falar de políticos sem cérebro

Imagine um mundo no qual boa parte dos políticos é irascível, defende propostas extremadas com pouca ou nenhuma conexão com a realidade, e no qual um eleitorado polarizado entre o que entende como direita e esquerda dedica parte de sua vida a brigas virulentas ao vivo ou on-line. Soa familiar?

Divulgação/CBS
Cenas de BrainDead. Creditos:Divulgacao ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Mary Elizabeth Winstead como a assessora do Senado americano Laurel Healy em 'BrainDead'

Na alegoria criada por Michelle e Robert King em "BrainDead" (morte cerebral), série de 13 episódios que a rede americana CBS estreou em meados de junho, a razão para isso são insetos alienígenas que entram pelo ouvido de políticos e eleitores durante o sono, comem parte de seus cérebros e os fazem perder qualquer rastro de equilíbrio, em um plano de destruição da sociedade.

Parece, por vezes, mais plausível que muitas explicações para o atual debate político nos EUA e em várias outras partes do mundo (alô, Brasil), no qual a emoção e as ideias simplistas que a ela apelam ameaçam tomar o lugar da razão.

Os King não são novos na ficção política, nicho crescente que parece ter hipnotizado os americanos. É deles "The Good Wife" (2009-16), uma das séries mais bem escritas e bem sucedidas da última década.

Pois a experiência com o drama da advogada Alicia Florrick (Julianna Margulies) serviu para deixá-los à vontade em um gênero difícil de navegar, mas que casa lindamente com o contexto atual: a farsa.

Às vezes recorrendo ao humor pueril, às vezes a alegorias contundentes, "BrainDead" é hábil em conduzir uma crítica corrosiva ao momento político sem poupar de petardos a direita (no caso dos EUA, republicanos) e a esquerda (democratas por lá), jornalistas e, sobretudo, nós, eleitores.

A heroína da vez é Laurel (Mary Elizabeth Winstead), uma documentarista de Los Angeles convocada pela família para trabalhar como assessora política do irmão, Luke (Danny Pino), um jovem senador em ascensão em Washington.

O rival do democrata Luke no Senado é o republicano Red Wheatus (o veterano Tony Shalhoub, de "Monk", ótimo), e seu assessor, Gareth (Aaron Tveit), será o antagonista/par romântico de Laurel.

A mudança abrupta no comportamento de conhecidos, acompanhada de episódios em que a cabeça de cidadãos comuns explode repentinamente, leva Laurel a se unir à médica Rochelle (Nikki M. James) e ao genial desocupado Gustav (Johnny Ray Gill) para descobrir por que os políticos —Wheatus entre eles— parecem malucos.

"BrainDead" não tem maior pretensão, e seu tom debochado com toques grotescos captura com precisão a infantilização do discurso político de hoje.

A série, porém, tem registrado audiência medíocre, o que coloca em dúvida novas temporadas.

Pode ser o esgotamento do modelo usado pelas grandes redes abertas nos EUA. Ou pode ser apenas porque o público está mais entretido com outro seriado surrealista, também conhecido como campanha eleitoral americana.

"BrainDead", da CBS, ainda não tem previsão de estreia no Brasil


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