Folha de S. Paulo


Com roteirista de 'South Park', 'Lady Dynamite' se esforça, mas não explode

Há uma fórmula muito em voga para comédias curtas (dessas de 20 ou 30 minutos): pessoa levemente desajustada, com problemas de relacionamento, encontra novo amor/cidade/emprego que a faz mudar.

Quase sempre, é uma pessoa esfuziante que disfarça traços de depressão e não é tão feliz quanto parece. Mas o novo amor/cidade/emprego irá surpreendê-la e deixá-la nas nuvens -desde que, claro, ela não desperdice a chance com suas esquisitices. Afinal, a vida é boa, e basta dar atenção ao que ela oferece (ou, ao menos, queremos acreditar nisso, daí o sucesso da fórmula).

Doug Hyun/Netflix
Maria Bamford in Lady Dynamite (2016)
Maria Bamford interpreta comediante na série "Lady Dynamite", da Netflix

Se você pensou em uma longa lista de séries que se encaixam nessa descrição, isso explica por que a produção televisiva (ou internética) passa por um período em que fazer rir tem sido bem mais difícil do que deixar o espectador tenso, triste ou atônito. Os dramas subiram de patamar; as comédias, com honrosas exceções, giram em looping.

"Lady Dynamite", que a Netflix lançou no fim de maio e cujos 12 episódios estão disponíveis no site, tenta quebrar a sina, mas recai nela.

A série é capitaneada por Maria Bamford, uma comediante de 45 anos cuja carreira foi construída essencialmente nos palcos de stand-up comedy e na dublagem de animações, e produzida por Mitchell Hurwitz, o mentor da ótima "Arrested Development" (sobre uma família disfuncional, outro tema central do humor americano).

Há ideias felizes, como o fato de a protagonista ser uma mulher de meia-idade menos conhecida e a opção por centrar a trama na pitoresca Duluth, no Estado de Minnesota, e não em Nova York, Los Angeles, San Francisco, Boston, Miami, Filadélfia ou Chicago -o circuito tradicional da dramaturgia americana.

Bamford é ágil e versátil, em alguns momentos conseguindo emular a perspicácia de Louis C.K. ou as lucubrações surreais de Tina Fey.

E Hurwitz tem uma queda louvável pelo bizarro, assim como a coprodutora Pam Brady, egressa da revolucionária "South Park".

A mão da dupla fica clara na escolha da locação e no foco nessa mesma classe média americana menos culta, que prefere o interior do país, menos contemplada pelas comédias espertinhas produzidas para se assistir em lote mas representada na série de animação citada.

Maria -a personagem- não é descolada; exceto pelo emprego de comediante, ela é uma mulher de meia-idade comum.

O problema é que nos últimos anos esse papel também se tornou saturado. Fica difícil bater, nesse quesito, C.K, o pioneiro Jerry Seinfeld ou mesmo Aziz Ansari e a turma do "Saturday Night Live". Bamford passa a impressão de se esforçar tanto para fazer isso que se torna cansativa para o espectador -o "dinamite" do título não é casual.

Nesse sentido, a dupla de "Broad City (do Comedy Central, que acaba de chegar ao Brasil pelo braço local do canal), Amy Schumer e Rachel Bloom (da comédia musical "Crazy Ex-Girlfriend, contemplada neste ano com o Globo de Ouro) fazem um trabalho muito melhor.

"Lady Dynamite" está disponível na Netflix


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