Folha de S. Paulo


História supera ficção em 'O Último Reino'

O transe em que a HBO, os produtores David Benioff e D.B. Weiss e o escritor George R. R. Martin colocaram a plateia e a crítica com "Game of Thrones" obriga a lembrar: eles não inventaram o gênero capa-e-espada, nem as alegorias da Idade Média e menos ainda o milenar arco narrativo do filho/a tentando recuperar aquilo que foi do pai.

É preciso dizer o óbvio antes de explicar que "O Último Reino", produção da BBC que o History Channel estreou no Brasil domingo passado (8), não é um sub-"Game of Thrones", pois a série ambientada na fictícia Westeros subverteu o gênero de tal forma que o que vier depois arrisca parecer versão menor.

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Alexander Dreymon como Uhtred em
Alexander Dreymon como Uhtred em "O Último Reino"

Se o drama da HBO se impõe pela opulência narrativa e de produção, recorrendo sem inibição à fantasia, o da BBC se atém à jornada do herói sem maiores ramificações, mas com farta inspiração histórica e a base sólida da série de livros homônima de Bernard Cornwell sobre a criação da Inglaterra.

"O Último Reino" retorna ao século 9, quando a identidade inglesa ainda estava sendo forjada, e o país -então um punhado de reinos que o rei Alfredo, o Grande, começava a unir como nação- se vê alvo da invasão dos povos vikings saídos da Dinamarca.

O herói, Uhtred (Alexander Dreymon, da terceira temporada de "American Horror Story"), é o segundo filho de um lorde da região norte que, ainda na infância, é sequestrado e escravizado por vikings que mataram seu pai em batalha.

O menino se apega ao captor, que logo passa a tratá-lo como filho, e cresce com uma identidade mais nórdica do que saxônica até o ponto em que se vê obrigado a escolher entre uma das duas.

Como a história da época é relativamente bem documentada (inclusive pela dramaturgia), não é preciso grandes volteios no roteiro para torná-la interessante.

Há o esperado para dramas do gênero —intriga política, drama familiar, sangue e sexo— em doses quase homeopáticas se comparadas a outras do gênero, inclusive o sucesso "Vikings", do mesmo canal. A aposta na identidade britânica, porém, poderia ser maior.

Se por um lado a série usa a seu favor a sobriedade típica das produções do país (sempre uns três tons abaixo das pares americanas), trazendo alívio ao espectador alucinado, por outro, ela não consegue dar ao texto o vigor e a ironia típicos dos conterrâneos de William Shakespeare e Oscar Wilde.

Os personagens são quase todos bidimensionais, e os diálogos alcançam apenas o necessário para fazer fluir a trama, sem maior sofisticação.

O History Channel ainda tomou a questionável decisão de encurtar os capítulos de 60 minutos para 45. Nenhum trecho foi suprimido, já que serão dez episódios em vez dos oito originais, mas o deslocamento do final do capítulo para um ponto anterior tira parte de sua força e fluência.

"O Último Reino" é exibida pelo History Channel aos domingos, 21h, com reprises durante a semana


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