Folha de S. Paulo


Johnny Depp brilha como Donald Trump em webfilme

Johnny Depp, 53, é um sujeito estranho, de escolhas exóticas e personagens singulares. Assim também se esforça para ser visto, de certa forma, Donald Trump, 69, o milionário empresário do ramo imobiliário convertido em apresentador de reality show convertido em presidenciável americano.

Foi, portanto, uma boa sacada a do Funny Or Die (funnyordie.com ) fundir os dois em uma mesma platinada figura no webfilme "Donald Trump: The Art of the Deal", supostamente inspirado no livro de autoajuda/autobiografia que o milionário escreveu nos anos 1990 com Tony Schwartz para narrar sua ascensão.

O programa de 49 minutos -no ar de graça, como tudo mais no portal de humor criado pelo comediante Will Ferrell ("O Âncora"), o diretor Adam McKay e o roteirista Chris Henchy- simula os filmes para a TV da década de 1980, com fotografia pobre e edição truculenta.

Hoje pode ser apreciado com alguma boa vontade do tipo "é tão ruim que é bom", mesmo sentimento que parece mover muitos dos que levam Trump a sério na política.

Se você não imagina como o esguio e delicado Depp pode virar o imenso Trump, não menospreze os talentos em questão: o de Depp como um ator obsessivo e o de Trump como personagem, cheio de frases de efeito prontas para serem captadas pelos ouvidos mais desatentos e caretas características.

Michaela Watkins, uma atriz que deveria receber mais atenção, está engraçadíssima em sua rápida participação como Ivana Trump, a modelo tcheca que se tornou a primeira mulher de Trump e lhe deu seus primeiros três filhos (ele tem cinco). O veterano Alfred Molina é o advogado de Trump, e o sorridente Jack McBrayer ("30 Rock") é o arquiteto que desenha a Trump Tower.

Mas é Depp que brilha -e bota brilho e muito bronze- em sua imitação do magnata, cheia de alfinetadas ao gestual profuso e ao vocabulário limitado do empresário, no qual repetem-se à exaustão adjetivos como "classudo" (usado para se referir a algo invariavelmente ostensivo), "brilhante", "enorme" e qualquer coisa que comporte seu ego.

A história é uma bobagem centrada em negociações de Trump para comprar prédios e erguer em seus lugares alguns dos arranha-céus na região de Nova York e Nova Jersey, especialmente o espalhafatoso cassino Taj Mahal, em Atlantic City.

O que importa, para os produtores, não é o roteiro, mas como provocar o máximo de risadas com a figura de Trump. Para tanto, qualquer mérito que ele possa ter como empresário fica fora, mas seu racismo e misoginia estão bem retratados.

Se Trump virar presidente, o que parece um pouco menos improvável hoje do que parecia há um mês, antes de começar a longuíssima temporada de prévias dos partidos nos EUA para escolherem seus candidatos à Casa Branca, os humoristas terão muito a festejar.

'Donald Trump: The Art of the Deal' pode ser visto gratuitamente no site funnyordie.com (a legenda é somente em inglês)


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