Folha de S. Paulo


'Crazy ex-Girlfriend' renova musical para era do Tinder

Quando o Globo de Ouro anunciou seus vencedores, no início deste mês, um nome surpreendeu (não que surpresas sejam raras na premiação concedida pela imprensa estrangeira em Hollywood).

Rachel Bloom, estrela de uma comédia estreante em um canal pago pequeno, o CW, havia derrotado decanas como Julia Louis-Dreyfus ("Veep" ), Lily Tomlin ("Grace e Frankie" ) e Jamie Lee Curtis ("Scream Queens" ), além da vencedora do ano anterior, Gina Rodríguez ("Jane the Virgin" ).

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Rachel Bloom em cena da primeira temporada
Rachel Bloom em cena da primeira temporada "Crazy Ex-Girlfriend"

São necessários poucos episódios da série de Bloom, "Crazy Ex-Girlfriend", para ficar claro que não houve equívoco -bom, talvez fosse hora de Julia Louis-Dreyfus ganhar seu segundo prêmio.

A atriz de 28 anos nascida na Califórnia e formada em Nova York escreve, interpreta, canta, dança, sapateia, faz piadas, emula um quê de Jennifer Aniston em "Friends" e outro de Lena Dunham em "Girls", e escolhe seus temas na mesma lista que Amy Schumer parece tirar os dela, apenas em uma versão mais fofa-surtada.

O que ela tem de diferente das demais? Bloom parece uma pessoa de verdade, mesmo que esteja em um número musical no qual evoque Beyoncé ou Ginger Rogers (1911-1995) declamando letras engraçadíssimas sobre a vida cotidiana moderna ou alfinetando o showbiz (sim, há também um quê de Marcelo Adnet).

Embora sua série seja original e faça piadas com conteúdo menos politicamente correto do que a TV aberta americana costuma permitir, ela parece seguir a linha terna e de diálogos rápidos que "Friends" sedimentou nos anos 1990 e que "How I Met Your Mother" (da qual seu marido foi roteirista) manteve até 2014.

Melhor do que isso, ela carrega uma certa pseudo-inocência da clássica "Jeannie É um Gênio". Não há intenção de chocar ou revolucionar, mas a afinação com que tudo é costurado a torna especial. É como se Frank Capra (1897-1991) dirigisse o humorístico "Saturday Night Live".

Bloom faz a personagem central, claro, uma advogada CDF em ascensão, que decide deixar um ótimo emprego em Nova York para se mudar para a insossa West Covina, Califórnia, e reencontrar um amor da adolescência após ter uma epifania com uma propaganda de margarina.

Para trás ficam uma carreira promissora -retomada no tacanho escritório local-, relações familiares disfuncionais e um enorme vazio existencial (a vida não é tão engraçada assim, certo?).

Tema menos recorrente que o inverso na TV e no cinema americano, a mudança da menina de cidade grande para o interior abre a porta para a autoparódia em que os americanos são craques, a falta de personalidade de suas cidades menores. West Covina pode muito bem ser uma versão mais modesta da Springfield dos "Simpsons" ou da Scranton de "The Office".

Bloom tem um canal no YouTube (youtube.com/racheldoesstuff ) onde estão clipes de paródia antigos e da série. A CW também pôs on-line cenas de "Crazy Ex-Girlfriend". Vale ver.

"Crazy Ex-Girlfriend" está disponível no iTunes/EUA, sem previsão para o Brasil


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