Folha de S. Paulo


Nova série 'Quantico' leva clima de 'Malhação' para o FBI

Imagine 'Malhação', mas no FBI. Eis "Quantico", a nova série policial de rede americana ABC que estreará no Brasil na próxima segunda (26), no canal AXN. Fosse mais bem escrita, acreditar-se-ia que se trata de uma ferramenta de recrutamento para a polícia federal americana.

Mais do que seu roteiro (grupo diverso de jovens é recrutado para o trainee do FBI e passa por meses intensos na academia em Quantico, Virgínia, até sair dali para uma vida de conspirações, atentados e perseguições), interessa o caso de mercado que a série virou.

Com três episódios no ar nos EUA, o drama de ação ganhou na última semana encomenda para um novo lote que lhe garante sobrevida até meados de 2016, ao menos.

Sinal de que o programa passou no teste da audiência americana, cada vez mais disputada diante da oferta de cerca de 400 séries entre canais abertos, canais pagos e sites.

Isso não significa que "Quantico" é boa, mas que atingiu o público alvo. No último domingo, foi a campeã do dia entre pessoas de 18 a 49 anos, audiência-chave nos EUA. O episódio de estreia, com suas reprises, foi visto por 12,2 milhões.

A aposta de "Quantico" é clara.

Protagonistas bonitos, que se envolvem emocionalmente —na estreia, Alex (Priyanka Chopra, egressa de Bollywood) já tem um encontro fortuito com Jake McLaughlin, de "Believe")—, cenas de luta e perseguição coreografadas como videoclipes.

O suspense se concentra no personagem Simon (Tate Ellington, de "Projeto Mindy"), um jovem gay e judeu de aparência tímida que parece trabalhar para vários lados.

Claro, há um grande mistério a desvendar -por que Alex começa a série estendida nos destroços da estação ferroviária Grand Central, em Nova York, e é culpada pelo ataque terrorista?

A resposta virá quando ela souber quem, na sua turma, é o traidor.

É um roteiro raso com atuações sofríveis, mas juntar uma turma de policiais que envolve mórmon, judeu, muçulmana, loira, latina, indiana, playboy, ex-militar e gente de passado conturbado funcionou.

O grupo é étnica, religiosa e sexualmente diverso demais para ser verossímil como trainees do FBI (a agência já se lastimou de não ter gente suficiente que falasse árabe). Mas cai bem na aspiração do espectador nascido nos anos 1990.

Esse sucesso pós-teen ficou evidente no rastreamento de tuítes durante sua exibição -foi a série mais comentada, com "Scream Queens", no levantamento da consultoria Keller Fay Group para o "USA Today".

E é esse o grupo mais almejado pelos produtores de TV, o mais difícil de fisgar, dados seus hábitos de atenção diferentes dos mais velhos.

O jornal "Los Angeles Times" noticiou nesta semana que, enquanto o público geral cresce, a fatia de homens de 18 a 24 anos vendo TV encolheu 16% nos EUA só na atual temporada, e a de mulheres, 8,8%.

O problema é concreto, daí a avalanche de estreias voltadas para essa audiência: "Quantico", "Scream Queens", "Blindspot", "Humans". Mas, se a qualidade for esta, a batalha já está perdida.

'Quantico' será exibida pelo AXN às segundas, 22h, a partir do próximo dia 26


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