Folha de S. Paulo


Indie e trintão? Vai gostar de 'Togetherness'

Você assiste a séries para quê? Pensar, se distrair, rir, se esquecer da vida? Ou, ao contrário, constatar que a sua vida até que não é tão ruim assim?

Quem achar que a segunda resposta faz sentido e estiver perto (ou passado) dos 30 tem boa chance de gostar de "Togetherness", comédia em oito episódios que a HBO estreou no mês passado e da qual acaba de encomendar uma nova temporada. Em caso de hipsters e gente vidrada em coisas indie em geral, as chances redobram.

"Togetherness" é obra dos irmãos Jay e Mark Duplass, que fizeram fama primeiro como curta-metragistas, depois com filmes independentes e mais adiante como os charlatões que competem com a clínica da protagonista em "Projeto Mindy". Jay, o mais velho, pode ser visto como o filho de um pai transgênero em "Transparent", da Amazon.

Lucy Nicholson/Reuters
Atriz Amanda Peet da série 'Togetherness
Atriz Amanda Peet da série 'Togetherness'

Aqui, Mark interpreta Brett, um técnico de som às voltas com uma carreira medíocre no cinema, dois filhos pequenos, uma mulher descontente (Melanie Lynskey, a adolescente perturbada de "Almas Gêmeas"), um melhor amigo desempregado (Steve Zissis, coautor) e a cunhada fútil (Amanda Peet).

Todos vivendo juntos (eis o título, "proximidade"), todos flertando com a crise da meia-idade.

O argumento/roteiro parece receita de bolo –e é, com o agravante de uns 70% das séries americanas tratarem de famílias disfuncionais. "Togetherness", porém, acerta em outros pontos.

A química entre os atores é excelente. Em muito ajudada pelo fato de Duplass e Zissis serem amigos antigos, mas também porque Peet e Zissis formam aquele tipo de anticasal que não combina em nada, à primeira vista, mas se entende perfeitamente em cena e pelo qual se torna impossível não torcer um pouquinho.

Segundo, como os diretores já admitiram, o material para a série foi escarafunchado em vidas de verdade, a começar as da própria dupla.

O casal principal ainda sofre com a falta de sono das noites interrompidas pelo choro do caçula; a cunhada envelhecendo preocupada por não ter par; o amigo, que é ator, não conseguiu corresponder profissionalmente às expectativas criadas quando adolescente. As neuroses explodem na convivência.

A melhor parte coube a Melanie Lynskey. Como a dona de casa Michelle, meio frustrada, meio feliz, desajeitada e dona de uma sensualidade muito sutil, ela tem dominado os episódios.

É, ao menos nesses primeiros capítulos despretensiosos, a única que promete surpresas e algumas camadas além das piadas fáceis e do humor físico. É Lynskey também –e não Zissis, cuja vida parece tão imperfeita– a responsável pelas notas melancólicas da série.

A HBO estava com duas comédias geniais em sua grade de domingo, "Veep" e "Silicon Valley", que ambicionam um público mais variado. Ambas voltam com novas temporadas em abril. "Togetherness" é uma obra menor, mas que pode cativar de forma indefectível um público bastante específico, porém numeroso, atrás de conforto.


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