Folha de S. Paulo


'State of Affairs' aposta em Katherine Heigl

Washington nunca foi tão sexy. Como se "House of Cards", "Homeland", "Scandal", "Madam Secretary", "Veep", "24 Horas", "Blacklist", "Alpha House" e (de certa forma) "Tyrant" não fossem suficientes, a overdose de séries centradas na política doméstica e externa dos EUA ganhou neste mês a décima –DÉCIMA– integrante, "State of Affairs".

Sem nada tão diferente a explorar, o novo drama de espionagem política do canal NBC pega um e outro elemento das produções rivais, dilui para o público menos atento a detalhes e aposta no carisma da protagonista, Katherine Heigl.

O resultado, dois capítulos após a estreia, ainda é duvidoso, embora tenha potencial para entreter.

Michael Parmelee/NBC/Divulgação
Katherine Heigl como a agente Charleston Tucker em 'State of Affairs
Katherine Heigl como a agente Charleston Tucker em 'State of Affairs'

Heigl surgiu para o mundo como a doutora Izzie Stevens no açucarado –e longevo– drama romântico-hospitalar "Grey's Anatomy". Firmou-se no cinema como protagonista de comédias românticas, nas quais inevitavelmente faz a moça linda e atrapalhada com dificuldades de se entender com o amor.

É difícil, portanto, olhar para a agente da CIA Charleston Tucker, que ela interpreta em "State of Affairs", e esperar um personagem mais denso –e mesmo mais tenso. A comparação automática com a também loira Claire Danes, que em "Homeland" interpreta outra agente da CIA atormentada e porra-louca, pouco ajuda Heigl. Pior ainda se o páreo for com a atual temporada, na qual Danes está genial.

Mas se o talento neste caso é mais limitado, o magnetismo de Heigl em cena é inquestionável. Por causa dele, em um exercício imaginário em que o espectador desconheça "Homeland" e "Grey's Anatomy" e as comparações possam ser deixadas de lado, é possível que "State" consiga entreter como uma boa novela.

A história narrada ainda não ficou clara o suficiente nos primeiros capítulos, nem ao menos se a protagonista é heroína ou vilã –o que dramaturgicamente é bom.

Sabe-se que ela é a encarregada de informar diariamente o que acontece no mundo à presidente dos EUA, Constance Payton (a ótima Alfre Woodard, a Betty de "Desperate Housewives"), que, como só convém a uma boa novela, é também sua ex-sogra. O desejo de vingança une as duas, já que o noivo/filho em questão morreu em um atentado nebuloso no Afeganistão no qual Tucker estava presente.

O papel da agente da CIA no incidente, bem como sua conexão com um ex-colega foragido (Chris McKenna) e até com um terrorista procurado (Farshad Farahat), não estão claros. Tampouco está estabelecida sua relação com o pai, ele também envolvido com espionagem (eis aí a pitada de "Scandal").

O que os roteiristas precisam agora é escolher um caminho a trilhar.

Há doses de romance (e um providencial antagonismo da personagem de Heigl com um colega de trabalho), drama familiar embalado por trilha sonora melosa, drama psicológico com direito a cenas de sessão de terapia e sexo casual para preencher vazios existenciais, ação inspirada em jogos de videogame e –pasme– até uma tentativa de fazer suspense com burocratas, impressoras, pastas e relatórios.

Assim, até a sem graça "Madam Secretary", com a insossa Téa Leoni, se sai melhor em audiência. Aliás, pergunta aos produtores: quantas agentes loiras da CIA a TV americana comporta?


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