Folha de S. Paulo


You're The Worst' oferece amor aos cínicos

Está procurando uma comédia romântica descolada, fofa-sem-ser-melosa e muito, muito cáustica para chamar de sua? Dê uma olhada em "You're The Worst", que acaba de ter sua segunda temporada encomendada nos EUA após a primeira ser apontada por muitos críticos, apesar da audiência discreta, como a melhor estreia do ano nesse filão.

Fãs de Larry David ("Curb Your Enthusiasm", "Seinfeld"), Louis C.K. ("Louie") e do sarcasmo britânico têm o dobro de chance de gostar, mas quem aprecia apenas romance moderno não será mal atendido.

A série em dez episódios, exibida nos EUA pelo canal FX, acompanha o processo de "apaixonamento" de dois indivíduos avessos a envolvimentos amorosos, do tipo que os amigos suspeitam que leve uma pedra no lugar do coração, a partir do momento em que eles se conhecem em um casamento no qual ele insulta a noiva e ela rouba um presente.

Divulgação
Chris Geere como Jimmy e Aya Cash como Gretchen em cena da série 'You're The Worst'
Chris Geere como Jimmy e Aya Cash como Gretchen em cena da série 'You're The Worst'

Ele, Jimmy (Chris Geere), é um escritor britânico cujo livro não decola, dado a falar verdades para quem quiser ou não ouvir; ela, Gretchen (Aya Cash), é uma relações-públicas da indústria musical acostumada a mentir para se esquivar, cujo único relacionamento próximo é com uma amiga malcasada sobre a qual ela pode eventualmente tripudiar.

(Pontos extras para Kether Donohue, que faz a escudeira Lindsay, e para Desmin Borges, como o amigo de Jimmy, Edgar. A participação especial de Thomas Middleditch, de "Silicon Valley", como um rival hipster de Edgar também é impagável.)

Como se pede das comédias românticas, o casal central é adorável, mas não daquele jeito sonhador Meg Ryan-Tom Hanks.

Seu poder de seduzir o público vem, sobretudo, da capacidade de parecerem estranhamente familiares ao espectador, como um/a amigo/a próximo/a por quem você torce, mas que é dado/a a fazer bobagens e às vezes merece um solavanco da vida. Eles parecem reais.

Mérito da ruiva Cash, que fez uma ponta em "O Lobo de Wall Street", e do desengonçado Geere, que acabou entrando no projeto quando ele já estava em curso (se você ficar obcecado com quem o ator lembra, a resposta é o olhar do Hugh Grant).

Ainda bem, pois isso garantiu a dose de humor britânico que difere a produção de seus pares docinhos. O mesmo, aliás, vale para as comédias cáusticas –embora os personagens tenham aquele amargor com a humanidade tão em voga, eles estão bem levando a vida assim, e o mundo não caiu à sua volta.

É essa, por sinal, a melhor sacada do criador da série, Stephen Falk, que traz no currículo episódios de "Orange is The New Black" e "Weeds". O roteirista e produtor explicou em entrevista recente ao site "The Wire" que usou parte de sua experiência como recém-divorciado de volta ao mundo da paquera para moldar a série de forma realista.

Inspirou-se, também, na naturalidade do casal interpretado por Helen Hunt e Paul Reiser em "Mad About You", embora aqui os protagonistas sejam mais jovens, mais ácidos e, bem, as cenas envolvam uma quantidade de sexo impensável para a TV aberta dos anos 90.

A química do par, porém, é semelhante, e a forma como a série envolve o espectador lembra o início de um relacionamento feliz: ela apenas flui, sem obstáculo, com um misto de novidade e aconchego até que, quando você percebe, está fisgado.


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