Folha de S. Paulo


Série traz Robin Williams na medida

Um comediante ressuscitado, quem diria, pode ser uma boa surpresa da nova temporada de séries cômicas, menos dadas ao experimentalismo (salvo um Jerry Seinfeld ou um Louis C.K. de tempos em tempos) do que seus pares dramáticos.

Pois Robin Williams, 62, mais de cem créditos no currículo e consagrado por uma série televisiva dos anos 70/80 ("Mork and Mindy", na qual ele fazia um extraterrestre fanfarrão), voltou.

E o resultado, nas mãos do produtor David E. Kelley ("Ally McBeal", "Boston Legal", "Chicago Hope") é melhor do que poderiam esperar aqueles que se aborrecem com as micagens e o estilo hiperverborrágico do ator.

Em "The Crazy Ones", que a rede americana CBS estreou no último dia 26, Williams é o reverenciado, premiado e excêntrico publicitário Simon Roberts, à beira de passar sua agência para as mãos da filha, Sydney (Sarah "Buffy" Michelle Gellar).

O detalhe da história é que pai e filha, embora se deem bem, têm personalidades opostas. E ocupar o espaço de alguém como Robin Williams (sim, o personagem é a versão publicitário do ator), sobretudo se você é convencional e centrado, não é fácil.

Richard Cartwright/Bloomberg
Robin Williams e Sarah Michelle Gellar no seriado 'The Crazy Ones'
Robin Williams e Sarah Michelle Gellar no seriado 'The Crazy Ones'

A crítica americana não caiu de amores pela série, e a avaliação pelo público, se usado de termômetro o popular Internet Movie Database (imdb.com), é apenas razoável, com uma média 6,8 em 1.649 avaliações.

Mas a audiência na estreia foi alta, 15,6 milhões de espectadores, e mais do que o dobro da série de Michael J. Fox, lançada propositalmente na mesma noite.

Embora tenham sido promovidas com motes semelhantes --comediante veterano que migrou com sucesso da TV para o cinema volta à tela pequena após longo intervalo--, as duas produções têm duas diferenças cruciais: roteiro e elenco de apoio.

É claro que "The Crazy Ones" explora o talento verbal de Williams, assim como "The Michael J. Fox Show" se calca no carisma de seu protagonista. Mas a primeira se preocupa, pelo menos, em desenvolver uma trama ao invés de meramente empilhar cenas supostamente engraçadas.

As tiradas são mais inteligentes, o excesso de maneirismos de Williams é contido (ao menos nos dois primeiros episódios exibidos) e os personagens secundários têm seus próprios conflitos, não se bastando como "escada" para os gracejos do ator principal.

Talvez exatamente por isso, a escalação do elenco tenha sido feita com muito mais cuidado do que a de sua concorrente direta.

Gellar, competente e firmada, tem peso de protagonista.

James Wolk, que faz o queridinho do chefe, é um galã simpático em ascensão (sua aparição mais recente foi como o filho da secretária de Estado de Sigourney Weaver em "Political Animals", que passou no Brasil pela HBO).

E Hamish Linklater, o puxa-saco preterido, ganha espaço merecido após uma ponta bem-sucedida em "The Newsroom", onde fez o produtor Jerry Dantana, responsável pela reviravolta que ocorre na segunda temporada.

Pode ser que a piada se esgote logo, e é difícil acreditar que a série supere as campeãs do momento, "Big Bang Theory" (no ar desde 2007) e "Modern Family" (desde 2009).

Mas se você não espera nada superinovador, "The Crazy Ones" pode render uma meia hora bastante divertida. Dá até para rir alto um pouquinho.

"The Crazy Ones", exibida às quintas nos EUA, ainda não teve estreia anunciada no Brasil


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