Folha de S. Paulo


Liberar ou não a maconha

Tive o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sentado pacientemente ao meu lado, esperando o final de mais uma sessão do filme polêmico 'Quebrando o Tabu', de Fernando Grostein Andrade. Ele acumula até o momento a cifra surpreendente de 25.978 espectadores. Todas as sessões do filme estavam lotadas no Unibanco Arteplex. Sinal do grande interesse pelo tema. Sua estreia foi em 30/5, com 14 semanas de exibição e a cifra acumulada de 1300 pessoas em um único cinema com nove salas.

Só queria aproveitar a oportunidade para fazer ao ex-presidente uma pergunta particular e muito pertinente ao tema do debate: afinal o que teria vindo primeiro? O ovo ou a galinha? A pergunta pegou o presidente de surpresa. Mas corrigi a tempo a minha curiosidade. Foi evidentemente uma provocação. Mas reparei a tempo a minha curiosidade. Queria polemizar também o tema à distância. E o que teria vindo primeiro? A semente ou a maconha? Liberar ou não a maconha? Condenar com mais severidade, como ainda acontece aos milhares de condenados por juízes por todo o país? A realidade atual brasileira é um dos principais flagelos sociais e ainda sem saída, independentemente das posições sobre este complexo debate.

Foi a segunda parte da minha questão particular. A história se perde no passado da antiguidade, dos rituais, dos povos indígenas, dos entorpecentes há muito consagrados, dos cipós, dos segredos das florestas. O debate não deixa a questão encerrada. Há também muitas questões que passam por traficantes soltos e com as benesses de corruptos em liberdade a todas as conveniências.

Outras liberdades são consentidas com as piores consequências: os drogados abandonados hipocritamente em grandes centros urbanos e já disseminados nas pequenas cidades, com toda sorte de repertórios pesados, do crack, a cocaína, o ópio, a heroína, e os produtos de química sintética.

Mas, afinal, o que quer esta humanidade? Liberdade para estourar os miolos como quiser e sem censura? Faltou talvez também falar da questão mais sedutora, envolta em liberalidade, mas igualmente hipócrita, que é o das liberdades consentidas nos herbanários cultivados com vigilância (?) como nos "coffe shops" da Holanda. Por fim, faltou mencionar o tráfico descontrolado da grande indústria internacional e sem fronteiras que elege todos os paraísos fiscais por onde se batizam este glossário dos diabos.

Não há mais no mundo drogas inocentes e sem manchas de sangue em um de seus percursos. Esta pode ser a principal mensagem do grande filme pautado na altura e na sabedoria de um grande presidente na altura dos seus 80 anos de vida.


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