Folha de S. Paulo


Lula pediu para Dilma acabar com fator previdenciário, segundo Paim

O senador Paulo Paim (PT-RS), ferrenho opositor ao pacote fiscal do governo, relatou à coluna conversa que teve com o ex-presidente Lula, em março, sobre as medidas de ajuste anunciadas pela equipe econômica para tapar o rombo das contas públicas.

Paim contou que no encontro, no Instituto Lula, em São Paulo, o ex-presidente lhe disse para não votar a favor do governo, se assim sua consciência mandasse. Segundo Paim, Lula também lhe confidenciou que se arrependeu de não ter acabado com o fator previdenciário em seu governo e que pediu à presidente Dilma para ela pôr fim ao mecanismo.

O fator previdenciário foi criado no governo FHC para retardar as aposentadorias de quem pretende parar de trabalhar mais cedo.

A maior parte das ações de ajuste fiscal estão contidas nas MPs (medidas provisórias) 664 e 665, que restringem direitos trabalhistas e benefícios previdenciários, como seguro-desemprego e pensão por morte.

"O presidente me disse o seguinte: 'onde está no estatuto do PT que tem que votar contra o trabalhador e o aposentado? Não está, vote de acordo com sua consciência'".

Na noite desta terça-feira (26), Paim e outros dois petistas, Lindbergh Farias (RJ) e Walter Pinheiro (BA), seguiram suas consciências e votaram contra o governo, aumentando os níveis de ansiedade no Palácio do Planalto. O governo ganhou por margem apertada a votação no Senado, com 39 votos a favor e 32 contra. O texto já havia sido aprovado na Câmara.

A MP 664 deve ser posta em votação hoje. Ao texto da 664 foi acrescida emenda que, na prática, põe fim ao fator previdenciário.

Paim diz que, neste caso, ele e os outros dois petistas rebeldes devem votar a favor da MP, somente para acabar com o fator previdenciário.

"O Lula é totalmente favorável a acabar com o fator [previdenciário]. Ele chegou a falar que se tem uma coisa da qual ele se arrependeu foi não ter derrubado o fator no governo dele", disse Paim.

Segundo o senador, no mesmo dia do encontro em março, Lula chamou para a conversa o presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Vagner Freitas. Paim contou também que Lula pediu a Freitas que convencesse a presidente Dilma Rousseff a acabar o fator previdenciário.

"Ele disse para o Vagner: 'o Paim tem razão. Essa história do fator já deu o que tinha que dar. Fale, Vagner, lá com a presidenta, e ajude a construir uma saída para que a gente resolva essa questão do fator de uma vez por todas.'"

De acordo com o senador, o presidente da CUT teria dado a seguinte resposta: "eu posso falar, mas ela não ouve".

Procurada na noite de terça-feira, a assessoria do Instituto Lula se limitou a dizer que o senador petista deu sua versão sobre uma conversa ocorrida dois meses atrás.

Nos bastidores, integrantes do governo têm dito que a presidente Dilma Rousseff deve vetar o fim do fator previdenciário, se for aprovado no Senado.

Paim disse que o Planalto tem trabalhado para que a MP 664 não seja votada, de modo a perder a validade. Assim, a presidente Dilma não precisaria vetar o fator.

Paim afirmou que, se Dilma vetar, o PT votará para derrubar o veto da presidente.

"Se ela vetar, nós vamos derrubar o veto. Toda a bancada do PT vota pela derrubada do veto, assim como a do PMDB", afirmou.

"O fato novo que ela não entendeu, a presidenta, é que o voto não é mais secreto, é aberto. E há unanimidade no país, que o povo todo é contra esse fator."

Em Brasília, circula o rumor de que, por trás da ação aberta da tríade de senadores petistas contra o governo, está a consciência de Lula. As declarações de Paim ajudam a dirimir essa dúvida.


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